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Crítica

Belle and Sebastian

: "A Bit of Previous"

Ano: 2022

Selo: Matador

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Camera Obscura e Jens Lekman

Ouça: Unnecessary Drama e If They’re Shooting At You

7.5
7.5

Belle and Sebastian: “A Bit of Previous”

Ano: 2022

Selo: Matador

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Camera Obscura e Jens Lekman

Ouça: Unnecessary Drama e If They’re Shooting At You

/ Por: Cleber Facchi 02/06/2022

A Bit of Previous (2022, Matador) é um trabalho que concentra o que há de melhor na obra do Belle and Sebastian. Primeiro álbum de estúdio do coletivo escocês desde Girls in Peacetime Want to Dance (2015), o registro diz a que veio logo nos minutos iniciais, em Young and Stupid. Enquanto os versos se aprofundam em questões existenciais – “Agora estamos velhos com ossos rangendo / Alguns com parceiros alguns sozinhos / Alguns com crianças e alguns com cães” –, melodias acústicas, arranjos de cordas e costuras sutis apontam a direção seguida pela banda de Glasgow até a derradeira Working Boy in New York City.

É como um lento, porém, permanente desvendar de sentimentos, narrativas e sensações que utilizam do que há mais ordinário nas experiências humanas, conceito que tem sido explorado desde o introdutório Tigermilk (1996), aprimorado na obra-prima da banda escocesa, If You’re Feeling Sinister (1996), mas que continua a reverberar com o mesmo frescor e fino toque de nostalgia com o presente álbum. A própria If They’re Shooting At You, composição que evoca Marvin Gaye e reforça o lado político do grupo, funciona como uma preciosa representação desse resultado, ampliando os horizontes do Belle and Sebastian.

Nesse sentido, A Bit of Previous traz de volta uma série de elementos que fizeram do grupo comandado por Stuart Murdoch um dos mais influentes da década de 1990, porém, longe de qualquer traço de conforto. Exemplo disso fica bastante evidente em Talk to Me, Talk to Me, música que segue de onde o grupo parou em Girls in Peacetime Want to Dance. São camadas de sintetizadores, batidas e melodias cantaroláveis que fazem lembrar das criações do ABBA. Essa mesma combinação de elementos fica ainda mais evidente em Prophets On Hold, composição que aponta para as pistas e flerta com o som produzido na década de 1970.

Nada que diminua o impacto de composições ainda íntimas dos primeiros trabalhos da banda. É o caso de Do It for Your Country. Do reducionismo dos arranjos à voz macia que trata sobre a inevitabilidade do fim – “Triste ver você partir, sinto sua falta, pequena / Triste chegar ao fim da história” –, cada fragmento da canção parece pensado para capturar a atenção do ouvinte. Mesmo quando ganha forma e cresce, A Bit of Previous mantém firme o diálogo com o passado, conceito evidente na já conhecida Unnecessary Drama, faixa que resgata a essência enérgica de músicas como Me and The Major e Like Dylan in the Movies.

Independente da trilha percorrida pela banda em estúdio, o mais interessante em A Bit of Previous talvez seja perceber o esforço de Murdoch e seus parceiros em garantir ao público um repertório consistente durante toda a execução do trabalho. Salve exceções, como a arrastada Deathbed of My Dreams, o disco encanta pela capacidade do grupo em transitar por entre estilos e diferentes narrativas de forma essencialmente dinâmica e envolvente. Canções como Come On Home, A World Without You e Working Boy in New York City que evitam um possível declínio criativo ao mergulhar na segunda metade do álbum.

De fato, desde Write About Love (2010) que a banda escocesa não apresentava ao público uma obra tão interessante e equilibrada. Do momento em que tem início, em Young and Stupid, passando pela entrega de faixas como Unnecessary Drama e Do It for Your Country, sobram momentos em que grupo brilha em estúdio. São canções que incorporam diferentes abordagens criativas, ritmos e referências, lembrando a versatilidade expressa em Dear Catastrophe Waitress (2003), porém, encontram na construção dos versos, sempre centrados em conflitos pessoais, um importante elemento de aproximação entre as faixas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.