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Crítica

Belle and Sebastian

: "Late Developers"

Ano: 2023

Selo: Matador

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Camera Obscura e Jens Lekman

Ouça: I Don’t Know What You See In Me e Give A Little Time

7.5
7.5

Belle And Sebastian: “Late Developers”

Ano: 2023

Selo: Matador

Gênero: Indie Pop

Para quem gosta de: Camera Obscura e Jens Lekman

Ouça: I Don’t Know What You See In Me e Give A Little Time

/ Por: Cleber Facchi 18/01/2023

Melodias cantaroláveis, narrativas que se aprofundam em personagens emocionalmente instáveis e versos que parecem pensados para grudar na cabeça do ouvinte. Em Late Developers (2023, Matador), novo trabalho de estúdio produzido pelo Belle and Sebastian, Stuart Murdoch e seus parceiros de banda, Stevie Jackson, Sarah Martin, Chris Geddes, Richard Colburn, Bobby Kildea e Dave McGowan, fazem o que sabem de melhor. São composições que partem de observações mundanas, porém, potencializadas pela forma como o grupo escocês dialoga com a música pop em uma abordagem sempre convidativa e particular.

Sequência ao material entregue em A Bit of Previous (2022), Late Developers segue de onde o grupo parou no último ano, porém, partindo de uma abordagem ainda mais acessível, íntima do ouvinte. A própria escolha de I Don’t Know What You See In Me como primeira composição do disco a ser revelada ao público funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco mais de três minutos em que a banda parte de uma base de sintetizadores melódicos para destacar a construção dos versos marcados pelo romantismo. “Eu não sei o que você vê em mim / Mas sei que não estou prestes a desistir de você“, canta.

É como um regresso ao mesmo território explorado pela banda em registros como Dear Catastrophe Waitress (2003) e The Life Pursuit (2006), efeito direto do uso de estruturas pouco complexas e letras sempre diretas, capazes de dialogar com o ouvinte logo em uma primeira audição. “Aproxime-se, tente aproveitar ao máximo / Você não tem tempo para perder tempo“, avisa Martin em Give a Little Time, música que sintetiza parte das experiências e temas incorporados pelo grupo ao longo da obra. Canções que se resolvem em um curto intervalo de tempo, proposta que concede ao trabalho maior dinamismo.

Mesmo quando desacelera em composições específicas, Late Developers em nenhum momento deixa de prender a atenção do ouvinte. Exemplo disso fica bastante evidente em Will I Tell You A Secret, quarta faixa do disco. Entre arranjos reducionistas que apontam para os introdutórios Tigermilk (1996) e If You’re Feeling Sinister (1996), Murdoch convence sem dificuldades, mergulhando na construção de versos atormentados que tratam sobre abandono e isolamento. “Agora eu estou olhando para a chuva fora da minha janela / Uma torre de solidão duramente lutada / Toda a vida do mundo está em outro lugar“, reflete.

São essa justamente essas pequenas oscilações e busca por diferentes propostas criativas que fazem de Late Developers um registro tão interessante. Instantes em que o grupo escocês vai da celebração ao parcial recolhimento, como uma extensão do material entregue no disco anterior. A própria atuação de Martin como vocalista em parte expressiva do trabalho é outro ponto bastante representativo para o material. Seja como apoio em canções assumidas por Murdoch, como The Evening Star, ou mesmo faixas assumidas integralmente, caso de When You’re Not With Me, tudo se projeta de forma sempre atrativa.

Próximo e ao mesmo tempo distante do registro que o antecede, Late Developers destaca o entusiasmo e capacidade do grupo em transitar por entre estilos mesmo em um curto período de tempo. Enquanto o trabalho anterior parecia flertar com o soul e ressaltar o uso de temas políticos, marca de canções como If They’re Shooting At You, com o presente disco, Murdoch e seus parceiros aportam em novos territórios e sustentam nos versos um forte caráter existencial. Composições talvez livres de grandes transformações, porém, consistentes com tudo aquilo que o Belle and Sebastian tem explorado desde o início da carreira.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.