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Crítica

Beverly Glenn-Copeland

: "The Ones Ahead"

Ano: 2023

Selo: Transgressive

Gênero: Art Pop, Soul

Para quem gosta de: ANOHNI e Lonnie Holley

Ouça: Stand Anthem e Love Takes All

8.0
8.0

Beverly Glenn-Copeland: “The Ones Ahead”

Ano: 2023

Selo: Transgressive

Gênero: Art Pop, Soul

Para quem gosta de: ANOHNI e Lonnie Holley

Ouça: Stand Anthem e Love Takes All

/ Por: Cleber Facchi 10/08/2023

Beverly Glenn-Copeland é o típico caso de um artista que, mesmo em atuação desde o início dos anos 1970, teve seu reconhecimento tardio. Redescoberto ao longo da última década por conta do cultuado Keyboard Fantasies (1986), trabalho em que se aventura de forma exploratória pela produção eletrônica, o músico regressa agora com o primeiro álbum de inéditas em quase duas décadas, The Ones Ahead (2023, Transgressive). São nove faixas em que o compositor norte-americano se permite transitar por diferentes estilos, ritmos e possibilidades em um permanente exercício de renovação da própria identidade criativa.

Música de abertura do disco, Africa Calling é um claro exemplo desse resultado. Ponto de reconexão do artista com os próprios ancestrais, a composição aponta para o continente africano no uso ritualístico da percussão e vocais, porém, partindo de um senso de atualização que faz lembrar dos encontros entre Brian Eno e David Byrne no início da década de 1980. Nada que a música seguinte, Harbour (Song for Elizabeth), com seus pianos e vozes sóbrias não deem conta de perverter, fazendo da declaração à própria esposa um exercício de confissão sentimental que evoca a dramaticidade de nomes como ANOHNI e Nick Cave.

Essa mesma carga dramática, porém, utilizando de uma abordagem transformada, pode ser percebida na posterior Love Takes All. Enquanto os versos se aprofundam nas dores e prazeres de um amor, arranjos cuidadosamente trabalho servem de complementos aos vocais sempre calculados de Glenn-Copeland. Um lento desvendar de informações que ainda serve de preparativo para a crescente People of the Loon, um dos pontos fortes do registro. Pouco menos de cinco minutos em que metais, coros, pianos e batidas parecem trabalhados de forma a potencializar as vozes densas e sentimentos incorporados pelo artista.

Com a chegada de Stand Anthem, quinta faixa do disco, todos esses elementos previamente revelados pelo compositor ganham nova formatação, crescem e transportam o ouvinte para um novo território criativo. Da percussão tribal ao uso complementar das vozes e bases fortes, cada mínimo componente assume uma posição de destaque dentro da canção. Entretanto, como indicado logo nos minutos iniciais, a grande beleza do registro está na capacidade de Glenn-Copeland em perverter qualquer traço de conforto, vide a mudança de direção imposta pela faixa-título, um soul colossal que parece resgatado da década de 1970.

Passado esse momento de maior comoção, Glenn-Copeland desacelera consideravelmente em Prince Caspian’s Dream. Mais do que um respiro momentâneo e talvez livre da sensação de impacto que marca o restante do trabalho, a faixa funciona como um aceno para as ambientações testadas pelo artista no já citado Keyboard Fantasies. É como se uma fina tapeçaria instrumental caísse sobre o disco, estrutura que projeta de forma ainda mais sensível na canção seguinte, Lakeland Angel, música que partilha de um série de elementos previamente apresentados em Love Takes All, mas que convence por meio das emoções.

Partindo desse direcionamento climático, Glenn-Copeland abre passagem para a faixa de encerramento do trabalho, No Other. Assim como as composições que a antecedem, a música parte de uma base pré-estabelecida, porém, ganha novos contornos e cresce na colorida sobreposição dos elementos. São vozes que se conectam aos cantos ritualísticos da canção de abertura e, mais uma vez, se completam pelo uso da percussão, texturas e bases sintéticas, proposta que não apenas traz de volta uma série de componentes testados ao longo do registro, como ainda apontam para diferentes fases na carreira do norte-americano.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.