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Crítica

Bike

: "Arte Bruta"

Ano: 2023

Selo: Quadrado Mágico / Before Sunrise Records

Gênero: Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Boogarins e Catavento

Ouça: Santa Cabeça e O Torto Santo

7.7
7.7

Bike: “Arte Bruta”

Ano: 2023

Selo: Quadrado Mágico / Before Sunrise Records

Gênero: Rock Psicodélico

Para quem gosta de: Boogarins e Catavento

Ouça: Santa Cabeça e O Torto Santo

/ Por: Cleber Facchi 25/05/2023

Incialmente pensado como um trabalho de duas composições extensas, ocupando as metades de uma mesma obra, Arte Bruta (2023, Quadrado Mágico / Before Sunrise Records) foi aos poucos lapidado e ganhou novo tratamento em estúdio. Quinto e mais recente álbum de inéditas do grupo paulista Bike, o sucessor de Quarto Templo (2019) deixa de lado o flerte com a música eletrônica, marca do registro que contou com produção de Apollo 9 e Renato Cohen, para mergulhar em um território que mais uma vez potencializa o uso das guitarras, trilha caminhos pouco usuais e aproxima a banda dos ritmos brasileiros.

Com produção de Guilherme Held (Criolo, Jards Macalé) e influenciado por novas escutas do quarteto formado por Julito Cavalcante (voz, guitarra), Diego Xavier (voz, guitarra), João Felipe Gouvea (baixo) e Daniel Fumega (bateria), Arte Bruta é um campo aberto a diferentes possibilidades. A própria sequência formada pela instrumental Arcoverde e Além-Ambiente funciona como uma boa representação desse resultado. Da introdução que evoca Fuga N° II dos Mutantes, passando pela percussão abrasileirada e guitarras sempre labirínticas, evidente é o esforço do quarteto em ampliar o próprio campo de atuação.

Claro que isso nem sempre parece tão bem elaborado. Em Cedro, por exemplo, a herança de Dorival Caymmi na construção dos versos e a percussão que aponta para Pedro Santos é bastante perceptível e positiva para o trabalho da banda, porém, o resultado ecoa de maneira incipiente, como um conjunto de ideias ainda em formação, talvez incompletas. Surgem ainda pequenas repetições poéticas e estruturas que buscam amarrar o disco, vide fragmentos de Além-Ambiente em Traço e Risco, mas que parecem sufocar o ouvinte, preso a uma sobreposição de elementos cíclicos que avançam com certa dificuldade.

Ainda assim, o esforço em incorporar diferentes conceitos criativos contribui para o fortalecimento do trabalho. Exemplo disso fica bastante evidente em Santa Cabeça, música que traz de volta uma série de elementos originalmente testados no disco anterior, como a relação com o krautrock, porém de forma melhor executada e que ainda preserva a relação do quarteto com a produção brasileira, vide a letra que busca inspiração nos acréscimos e decréscimos de Bat Macumba. Surgem ainda preciosidades como Filha do Vento, composição de letra hipnótica e guitarras que parecem saídas de algum disco do Sonic Youth.

Essa riqueza de detalhes e delirante sobreposição de elementos fica ainda mais evidente na segunda metade do disco. Inaugurado pelas guitarras reducionistas de Além-Céu, o trabalho avança aos poucos, combinando arranjos acústicos, efeitos e cantos de pássaros que a todo momento reforçam a lisergia do quarteto paulista e apontam para a obra de veteranos como Pink Floyd. São canções que preservam a essência dos antigos trabalhos da banda, porém, esbarram em novos temas e conceitos instrumentais, como uma soma das ideias e experiências acumuladas pelo grupo durante o período de isolamento social.

Com base nesse resutlado, difícil não pensar em Arte Bruta como uma espécie de recomeço para o Bike. Mesmo que algumas das ideias incorporadas pela banda pareçam ainda incompletas, vide a relação com a música brasileira e o uso de experimentações ocasionais, evidente é o esforço do quarteto em testar diferentes abordagens dentro de estúdio. O próprio título da obra, inspirado pelo movimento francês que estimulava a produção livre de possíveis sistematizações, sintetiza de forma bastante eficiente esse esforço do grupo em avançar para romper possíveis limites criativos e evitar o uso de estruturas formuláicas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.