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Crítica

Bill Ryder-Jones

: "Iechyd Da"

Ano: 2024

Selo: Domino

Gênero: Folk, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Grian Chatten e Tobias Jesso Jr.

Ouça: This Can't Go On e We Don’t Need Them

6.5
6.5

Bill Ryder-Jones: “Iechyd Da”

Ano: 2024

Selo: Domino

Gênero: Folk, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Grian Chatten e Tobias Jesso Jr.

Ouça: This Can't Go On e We Don’t Need Them

/ Por: Cleber Facchi 01/02/2024

Os minutos iniciais de Iechyd Da (2024, Domino), novo álbum de Bill Ryder-Jones em carreira solo, são essenciais para entender o caminho percorrido pelo cantor, compositor e produtor britânico. Enquanto parte dos versos se aprofundam em conflitos sentimentais vividos pelo também ex-integrante da banda The Coral (“Embora eu seja demais / Nunca serei o suficiente para você, eu sei“), fragmentos de Baby, criação de Caetano Veloso aqui interpretada por Gal Costa, ganham forma em meio a ambientações tímidas que apontam diretamente para os momentos de maior calmaria explorados pelo The Velvet Underground.

É partindo desse permanente olhar para o passado, seja ele antigo ou ainda recente, que músico conduz a experiência do ouvinte até os minutos finais. São composições dotadas de um incontestável refinamento estético e instrumental, efeito direto das quase três décadas de atuação de Ryder-Jones, porém, totalmente livres de qualquer traço de originalidade. De fato, quanto mais nos aprofundamos no repertório do disco, mais estabelecemos pequenas conexões, algumas delas bastante suspeitas, com a obra de outros artistas. É como um permanente reciclar de velhas tendências, ritmos e até mesmo temáticas há muito consolidadas.

Uma das primeiras composições do disco a serem reveladas ao público, If Tomorrow Starts Without Me funciona como uma boa representação desse resultado. Marcada pela fluidez dos arranjos de cordas e base rítmica que se conecta aos vocais, a faixa que trata sobre as incertezas diárias pode até encantar pela construção dos versos, porém, em nada acrescenta quando voltamos os ouvidos para os antigos registros de Christopher Owens e Chet “JR” White, as mentes criativas por trás do hoje extinto Girls. O mesmo se percebe em Christinha, música que parece saída diretamente do álbum Father, Son, Holy Ghost (2011).

E essas pequenas similaridades não esbarram apenas na obra de um artista ou outro, mas em diversos deles. Difícil ouvir This Can’t Go On e não lembrar das criações do Arcade Fire, efeito direto da bateria e arranjos cordas ascendentes, como se saídos do repertório de Neon Biblie (2007). Já em We Don’t Need Them, são bases incialmente reducionistas, tímidas, mas que se completam pelo coro de vozes e avanço gradativo dos instrumentos, soando como uma canção perdida do Spiritualized. Surgem ainda baladas como A Bad Wind Blows in My Heart Pt. 3, emulando a atmosfera de Tobias Jesso Jr. em Goon (2015).

Interessante perceber nos momentos em que mais se distancia desse atravessamento de informações o estímulo para algumas das faixas mais honestas do trabalho. É o caso de How Beautiful I Am, canção que parte de recordações simples vividas por um casal dentro de um quarto de hotel para estreitar laços com o ouvinte. “Com uma lata sobrando e fora do meu alcance / Acendendo um cigarro / Ela me diz o quão lindo eu sou“, canta. A própria composição de abertura, I Know That It’s Like This (Baby), mesmo deixando suas inspirações claras, encanta pelo evidente domínio criativo e postura equilibrada adotada por Ryder-Jones.

Independente da direção percorrida em estúdio pelo instrumentista, prevalece em Iechyd Da um esforço de Ryder-Jones em não se repetir criativamente. Desde que deu vida ao primeiro álbum em carreira solo, If… (2011), cada novo registro entregue pelo compositor britânico parece aportar em um novo território, vide a atmosfera melancólica que se apodera de A Bad Wind Blows in My Heart (2013) ou mesmo o uso carregado das guitarras que invadem o antecessor Yawn (2018). São trabalhos que evidentemente pecam pela completa falta de originalidade, porém, sempre marcados pelo refinamento técnico do artista.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.