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Crítica

Billie Eilish

: "Happier Than Ever"

Ano: 2021

Selo: Darkroom / Interscope

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Lorde e James Blake

Ouça: Happier Than Ever e My Future

8.0
8.0

Billie Eilish: “Happier Than Ever”

Ano: 2021

Selo: Darkroom / Interscope

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Lorde e James Blake

Ouça: Happier Than Ever e My Future

/ Por: Cleber Facchi 03/08/2021

Billie Eilish parece ter encontrado um lugar que pertence somente a ela. Utilizando de um som completamente torto, versos murmurados e momentos de maior experimentação, a cantora e compositora californiana segue o caminho oposto ao que tantos nomes da música pop decidiram explorar nas últimas duas décadas. Um exercício autoral, ainda que intimamente conectado às principais influências da artista, como Justin Bieber e Lana Del Rey, mas que em nenhum momento se permite provar do maximalismo e fórmulas prontas de veteranos como Max Martin e Greg Kurstin. São momentos de maior vulnerabilidade e corrupções estéticas que poderiam isolar a jovem de 19 anos, porém, como indicado durante o lançamento de When We All Fall Asleep, Where Do We Go? (2019), fizeram de Eilish um dos nomes mais interessantes e cultuados do presente cenário.

Em Happier Than Ever (2021, Darkroom / Interscope), segundo e mais recente trabalho de estúdio, Eilish reflete sobre o impacto desse sucesso, o peso da fama e outras transformações pessoais vividas após o lançamento do trabalho que rendeu à ela quatro prêmios Grammy, incluindo o tão cobiçado título de álbum do ano. São canções marcadas pelo forte aspecto confessional dos versos, como se artista fizesse dos próprios conflitos um precioso componente de diálogo com o ouvinte, conceito reforçado logo na introdutória Getting Older. “Estou ficando velha, tenho mais sobre meus ombros / Mas estou ficando melhor em admitir quando estou errada“, detalha em meio a sintetizadores ruidosos, típicos da produção de Finneas O’Connell, irmão e principal parceiro de criação da cantora.

Esse mesmo direcionamento temático acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra. São canções que discutem depressão, sexualidade, isolamento e morte de forma sempre sensível, íntima do ouvinte. Exemplo disso acontece na já conhecida Your Power, faixa que parte de uma base reducionista, mas que é potencializada pela letra que discute relacionamentos abusivos e manipulação. “Como você ousa? / E como você foi capaz? / Você só vai se sentir mal quando eles descobrirem?“, questiona. É como se Eilish preservasse tudo aquilo que foi apresentado durante o lançamento de When We All Fall Asleep, Where Do We Go?, porém, partindo de uma abordagem ainda mais complexa, vide o completo amadurecimento explícito na construção dos versos.

Nesse sentido, mesmo faixas já conhecidas, como Therefore I Am e a balada existencialista de My Future, uma das melhores composições já produzidas pela artista, ganham novo significado quando observadas como parte do trabalho. São fragmentos sentimentais que se espalham em meio a captações sujas, quebras e sobreposições minimalistas, reforçando o caráter homogêneo do álbum. Mesmo quando se permite provar de novas possibilidades dentro de estúdio, como na inusitada Billie Bossa Nova e na eletrônica anfetaminada de Oxytocin, Eilish em nenhum momento ultrapassa o que parece ser um bem resolvido conjunto de ideias, batidas e temas instrumentais, conceito reforçado pela produção minuciosa Finneas, grande responsável por organizar criativamente esse material.

Mesmo consistente e repleto de bons momentos, Happier Than Ever, assim como o material entregue no disco anterior, peca pelo excesso. São criações como Goldwing e Halley’s Comet que mesmo executadas de maneira competente, pouco contribuem para o desenvolvimento do trabalho ou repetem temas explorados de forma ainda mais interessante em outras composições. A própria Lost Cause, apresentada há poucos meses, soa muito mais como uma sobra do registro anterior do que parte substancial do presente álbum. O resultado desse processo está na entrega de um repertório que se estende para além do necessário, dificultando o acesso ao bloco final, onde residem canções como a surpreendente faixa-título, música que parte de uma abordagem bastante similar ao restante da obra, porém, conduz o ouvinte para um território completamente inesperado.

Misto de consolidação e passagem para uma nova fase, Happier Than Ever encanta pela forma como a artista confessa sentimentos e incorpora diferentes temáticas, porém, preservando parte da identidade criativo e frescor explícito durante a produção do disco anterior. A principal diferença em relação ao material entregue em When We All Fall Asleep, Where Do We Go?, onde tudo parecia se resolver dentro de um território bastante particular, está na forma como a cantora aponta direções e deixa o caminho aberto para os futuros trabalhos. Da forte relação com a produção eletrônica, base para músicas como Oxytocin, passando pela completa imprevisibilidade da faixa-título, Eilish captura a atenção do ouvinte sem grandes dificuldades e ainda aumenta a expectativa para o que está por vir.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.