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Crítica

Billy Woods

: "Golliwog"

Ano: 2025

Selo: Backwoodz Studioz

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Armand Hammer e MF Doom

Ouça: Misery, Waterproof Mascara e A Doll Fulla Pins

8.8
8.8

Billy Woods: “Golliwog”

Ano: 2025

Selo: Backwoodz Studioz

Gênero: Rap

Para quem gosta de: Armand Hammer e MF Doom

Ouça: Misery, Waterproof Mascara e A Doll Fulla Pins

/ Por: Cleber Facchi 19/05/2025

Billy Woods sempre foi um especialista na composição de obras atmosféricas. Ainda que todas as virtudes do rapper estejam bastante evidentes na elaboração das rimas, a ambientação proposta pelo artista é tão importante quanto o que se estabelece nos versos. De registros em carreira solo, como Aethiopes (2022), a trabalhos colaborativos, caso de Maps (2023), com Kenny Segal, sobram bons exemplos dessa abordagem.

Entretanto, o que Woods estabelece em Golliwog (2025, Backwoodz Studioz), novo álbum em carreira solo, transcende tudo aquilo que havia testado anteriormente. Utilizando trechos de filmes e seriados de terror, antigas propagandas de TV e discursos políticos deteriorados pelo tempo, o rapper apresenta um registro que não apenas utiliza a estética do horror, como faz disso um estímulo para o desenvolvimento dos versos.

Exemplo disso fica bastante evidente Waterproof Mascara. Enquanto a base da canção transforma o choro de uma mulher no principal componente instrumental, versos atormentados partem de abusos sofridos na infância como uma reposta para os traumas da vida adulta e o flerte com o suicídio. A mesma ambientação sufocante fica ainda mais evidente na canção seguinte, Counterclockwise, música que combina a produção densa de The Alchemist com trechos de um documentário sobre práticas de torturas cometidas pela CIA.

Nesse sentido, fica bastante claro que o horror abordado por Woods, ainda que cinematográfico e imerso em elementos de cultura pop, está longe de ser fictício. Pelo contrário: é real, descritivo, doloroso e brutal. Assim como já havia testado em We Buy Diabetic Test Strips (2023), com o Armand Hammer, o artista se aprofunda em estudos sobre indivíduos marginalizados, principalmente membros da comunidade negra.

A própria combinação entre BLK XMAS e BLK ZMBY, posicionadas próximas ao começo e fechamento da obra, parece reforçar essa temática do horror racial. Claro que isso não impede o artista de circular por outros universos temáticos, como na curiosa Misery, em que rima sobre uma experiência romântica com uma criatura vampiresca, ou em Corinthians, faixa em que faz piada com os bilionários de maneira ácida.

Surgem ainda preciosidades como A Doll Fulla Pins, parceria com Yolanda Watson em que mescla imagens surrealistas para tratar sobre paranoia urbana e questões emocionais. Uma densa combinação de estilos e diferentes temáticas que, vez ou outra, estendem o trabalho para além do necessário e tornam a segunda metade de Golliwog desequilibrada, mas sem jamais comprometer a força lírica e visão criativa de Woods.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.