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Crítica

Black Belt Eagle Scout

: "The Land, The Water, The Sky"

Ano: 2023

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Miya Folick e Tanukichan

Ouça: Nobody, Spaces e Don’t Give Up

7.8
7.8

Black Belt Eagle Scout: “The Land, The Water, The Sky”

Ano: 2023

Selo: Saddle Creek

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Miya Folick e Tanukichan

Ouça: Nobody, Spaces e Don’t Give Up

/ Por: Cleber Facchi 24/02/2023

Katherine Paul sempre encontrou na própria ancestralidade e na relação com os povos originários da América do Norte uma importante fonte de inspiração para o trabalho no Black Belt Eagle Scout. Desde a estreia com Mother of My Children (2017), a cantora, compositora e multi-instrumentista descendente da tribo Swinomish tem se aventurado na entrega de composições que partem de vivências pessoais para dialogar com o ouvinte. Um minucioso exercício criativo que ganhou diferentes tonalidades durante a apresentação do registro seguinte, At the Party With My Brown Friends (2019), mas que ecoa de forma ainda mais sensível no repertório produzido para The Land, The Water, The Sky (2023, Saddle Creek).

Como indicado logo na imagem de capa, com a artista em comunhão com a natureza enquanto segura um fio vermelho em uma das mãos, o registro de doze faixas mostra o esforço de Paul em se conectar com os próprios ancestrais e a região onde cresceu, reforçando o conceito da hereditariedade que há tempos move as criações do Black Belt Eagle Scout. “Tocando todas as pedras, eu sinto / Ninguém pode tirar esse momento porque / Meu sangue corre por esta terra“, reflete na introdutória My Blood Runs Through This Land, composição que avança lentamente, ambientando o ouvinte aos temas que movimentam o disco.

Uma vez apontada a direção seguida em estúdio, Black Belt Eagle Scout trata de cada composição como um objeto precioso. Enquanto os versos se aprofundam no contato da artista com a natureza, pequenas inquietações e nas relações familiares, camadas de guitarras utilizam de uma abordagem puramente atmosférica, como um reforço ao caráter contemplativo da obra. Exemplo disso fica bastante evidente na já conhecida Spaces, música em que Paul conta com vozes de apoio de membros da própria família. São ambientações serenas e estruturas que mais ocultam do que necessariamente revelam informações.

Por conta disso, The Land, The Water, The Sky é um trabalho que talvez custe a impressionar o ouvinte mais apressado. Como indicado logo nos minutos iniciais, o sucessor de At the Party With My Brown Friends é uma obra que avança em uma medida própria de tempo, rompendo com o dinamismo explícito no registro que o antecede. De fato, essa fluidez comedida tende a prejudicar o desenvolvimento do álbum durante toda sua execução. Parte desse resultado vem da escolha da artista em limitar o uso da percussão, sustentando no uso labiríntico das guitarras um estímulo natural para a formatação das composições.

Não por acaso, quando rompe com essa caráter atmosférico do álbum, Paul abre passagem para algumas das principais composições do trabalho. É o caso de Nobody. Do uso destacado da bateria, passando pela imponência das guitarras e vozes que reforçam o aspecto sentimental do registro (“Ninguém cantou para mim como eu quero cantar para você“), difícil não se deixar conduzir pela força da canção. E ela não é a única. Escolhida como música de encerramento, Don’t Give Up pode até partir de uma base contida, porém, cresce lentamente, esbarrando no mesmo som ruidoso e transcendental que marca a obra do Galaxie 500.

Dividido entre momentos de maior aceleração e composições que encantam pela sutileza dos elementos, The Land, The Water, The Sky se apresenta ao público como uma obra essencialmente equilibrada. Mesmo que parte dos elementos e conceitos incorporados ao longo do registro tenham sido testados nos dois primeiros trabalhos de estúdio do Black Belt Eagle Scout, tudo ecoa de maneira tão consistente que é difícil não se deixar conduzir pelo som produzido por Paul. São canções que partem de um exercício criativo bastante particular, porém, dotado de uma linguagem universal, capaz de dialogar com qualquer ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.