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Crítica

Black Country, New Road

: "Ants From Up There"

Ano: 2022

Selo: Ninja Tune

Gênero: Art Rock, Pós-Rock, Indie Rock

Para quem gosta de: Black Midi e Squid

Ouça: The Place Where..., Snow Globes e Concorde

8.5
8.5

Black Country, New Road: “Ants From Up There”

Ano: 2022

Selo: Ninja Tune

Gênero: Art Rock, Pós-Rock, Indie Rock

Para quem gosta de: Black Midi e Squid

Ouça: The Place Where..., Snow Globes e Concorde

/ Por: Cleber Facchi 10/02/2022

Poucas coisas são tão satisfatórias quanto perceber o processo de transformação de um artista ou coletivo em um curtíssimo intervalo de tempo. E é exatamente isso que você encontra nas canções de Ants From Up There (2022, Ninja Tune). Sequência ao material entregue no ainda recente For the First Time (2021), revelado há poucos meses, o segundo álbum do Black Country, New Road encanta não somente pela capacidade da banda encabeçada por Isaac Wood em preservar tudo aquilo que foi apresentado no disco anterior, como em expandir estruturas e conceitos de forma ainda mais impactante. Da construção dos versos ao acabamento dado aos arranjos, tudo parece pensado para representar a potência do grupo.

Entretanto, diferente de outros trabalhos regidos pelo mesmo caráter orquestral e criativa combinação de ideias, típica de um segundo disco, o álbum de dez faixas encanta justamente pelo equilíbrio alcançado pela banda que se completa pelos músicos Tyler Hyde (baixo), Lewis Evans (saxofone), Georgia Ellery (violino), May Kershaw (teclados), Charlie Wayne (bateria) e Luke Mark (guitarras). São momentos de calmaria e caos que garantem maior dinamismo ao registro, fazendo desse permanente cruzamento de informações e quebras ocasionais o estímulo para a formação de um material sempre exploratório.

Claro que isso não interfere na entrega de faixas mais imediatas. E isso fica bastante evidente em Chaos Space Marine. Primeira música do disco a ser apresentada ao público, a canção de três minutos parece pensada para aplacar a ânsia de quem foi seduzido por algumas das criações mais urgentes do trabalho anterior. Pouco mais de três minutos em que o coletivo discute a própria essência, referencia Billie Eilish e ainda aponta a direção seguida no restante da obra. Um misto de vozes, batidas e sopros que muda de direção a todo instante. Em Ants From Up There, mesmo que parte expressiva dos elementos tenham sido apresentados pela banda no registro anterior, a ausência de certeza possibilita que tudo seja explorado.

Exemplo disso acontece em Snow Globes. Partindo de uma base contínua que se espalha em um intervalo de mais de nove minutos de duração, a faixa marcada pela sobreposição dos elementos encanta pela dinâmica adotada pelo grupo em estúdio. É como se cada integrante assumisse uma função específica, garantindo maior profundidade à poesia de Wood. Essa mesma sutileza no trato dos instrumentos acaba se refletindo em The Place Where He Inserted the Blade, música que evidencia o entrosamento do grupo e força que rege o trabalho. “Você está com medo de um mundo onde você é necessário“, cresce a letra da canção que trata sobre as transformações humanas, incertezas e o medo de explorar o inexplorado.

É como se Wood e seus parceiros de banda transportassem para dentro de estúdio as experiências traumáticas vividos por qualquer jovem adulto. São memórias da infância, relacionamentos fracassados, angústias e momentos de maior desespero, porém, observados de um ponto de vista diferente, do alto de uma janela de um avião, como indicado no próprio título e identidade da obra. Dessa forma, o coletivo britânico universaliza questões pessoais de maneira bastante sensível, conceito que vai da descritiva Concorde às memórias empoeiradas que se revelam na faixa de encerramento, Basketball Shoes.

Parte desse resultado e evidente melancolia que se apodera do registro vem das experiências vividas por Wood nos últimos meses. Sufocado pela depressão e problemas de saúde mental, o músico trouxe muitos desses tormentos pessoais para dentro do trabalho. São canções dotadas de um lirismo dolorosamente honesto, íntimo do ouvinte, mas que acabaram por consumir o artista, anunciando seu desligamento da banda poucos dias antes do lançamento do álbum. Nesse sentido, Ants From Up There nasce como um importante e delicado capítulo na produção inglesa recente, ainda que o futuro da banda permaneça incerto.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.