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Crítica

Black Midi

: "Hellfire"

Ano: 2022

Selo: Rough Trade

Gênero: Art Rock, Experimental

Para quem gosta de: Black Country, New Road e Squid

Ouça: Welcome To Hell e Eat Men Eat

8.5
8.5

Black Midi: “Hellfire”

Ano: 2022

Selo: Rough Trade

Gênero: Art Rock, Experimental

Para quem gosta de: Black Country, New Road e Squid

Ouça: Welcome To Hell e Eat Men Eat

/ Por: Cleber Facchi 20/07/2022

Hellfire (2022, Rough Trade), como o próprio título aponta, é um registro incendiário. Terceiro e mais recente trabalho de estúdio produzido pelo Black Midi, o álbum segue de onde o grupo britânico parou há poucos meses, em Cavalcade (2021), porém, partindo de uma abordagem ainda mais imprevisível e totalmente caótica. A própria imagem de capa do disco, uma criação em conjunto entre David Rudnick, Maharani Yasmine Putri e Emiel Pennickx, funciona como um precioso indicativo e alerta do delirante repertório que os músicos Geordie Greep, Cameron Picton e Morgan Simpson apresentam ao público.

Composto durante o período de isolamento social, o trabalho que conta com produção de Marta Salogni (Björk, Animal Collective), parceira desde o disco anterior, evidencia o esforço do grupo londrino em ampliar criativamente o próprio campo de atuação. Para além dos experimentos regidos pelas guitarras de Greep, marca do introdutório Schlagenheim (2019), Hellfire chama a atenção pelo maior refinamento estético e busca do trio em incorporar diferentes estilos ao longo da obra. São variações instrumentais adornadas pelo uso de arranjos de cordas, metais e um vasto time de novos colaboradores em estúdio.

Escolhida para anunciar a chegada do disco, Welcome To Hell funciona como uma boa representação de tudo aquilo que o grupo busca desenvolver durante a execução da obra. Inaugurada em meio a guitarras e batidas rápidas, típicas da banda, a composição pouco a pouco se transforma em um labirinto de sons e sensações sempre desconcertante. São ruídos, atravessamentos rítmicos e fragmentos de um piano torto que se engrandece pelo uso complementar das cordas e metais. Pouco mais de quatro minutos em que o trio apresenta parte das regras e não-regras que orientam a experiência do ouvinte no decorrer do álbum.

São momentos contrastantes de calmaria e caos, estrutura que se completa pela inserção de elementos de música flamenca, experimentações jazzísticas, quebras e pequenas tensões instrumentais. É como uma maquiagem conceitual para o repertório entregue no disco anterior. Instantes em que o grupo utiliza dessa anti-fórmula para provar de novas possibilidades, porém, preservando a própria identidade. Uma vez imerso dentro desse cenário, cada composição parece transportar o ouvinte para um novo território. Canções que vão de um canto a outro sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra confusa.

Essa mesma versatilidade na construção dos arranjos fica ainda mais evidente no enquadramento lírico adotado por Greep. Composições que orbitam um universo bastante particular, por vezes inacessível ao ouvinte, porém, nunca desinteressante. Exemplo disso acontece em Sugar/Tzu, música que detalha o embate entre dois personagens em um futuro distante. A própria faixa de encerramento, 27 Questions, é outra que seduz pelo caráter delirante e estranhamento. Frações poéticas que partem de um fictício Freddie Frost para mergulhar em um repertório existencialista, conceito que se repete ao longo do disco.

Obra de excessos, direcionamento explícito em músicas como a já conhecida Eat Men Eat e The Race Is About to Begin, Hellfire estabelece nesse permanente cruzamento de informações e quebras buscas um importante componente criativo para o fortalecimento do trabalho. Mesmo que parte desses elementos e estruturas tenham sido apresentadas durante o desenvolvimento do registro anterior, tudo é tratado de forma tão imprevisível que é difícil não se deixar conduzir pelo repertório apresentado pela banda. Um campo aberto à experimentação que faz do Black Midi um dos nomes mais inventivos da cena inglesa.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.