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Crítica

Blake Mills

: "Jelly Road"

Ano: 2023

Selo: Verve / New Deal

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Cass McCombs e William Tyler

Ouça: Skeleton Walking e There Is No Now

7.7
7.7

Blake Mills: “Jelly Road”

Ano: 2023

Selo: Verve / New Deal

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Cass McCombs e William Tyler

Ouça: Skeleton Walking e There Is No Now

/ Por: Cleber Facchi 30/01/2024

O caminho percorrido por Blake Mills em carreira solo tem sido cada vez menos imediato, porém, ainda mais fascinante. E isso fica bastante evidente com a apresentação de Jelly Road (2023, Verve / New Deal). Mais recente trabalho de estúdio do cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista norte-americano, o registro de doze faixas destaca o esforço do músico em seguir um percurso pouco usual, efeito direto do desenho torto das guitarras e instantes de maior experimentação, mas que em nenhum momento deixam de encantar por meio do habitual refinamento estético que há mais de uma década orienta a obra de Mills.

Com pouco menos de três minutos de duração, a própria faixa-título do trabalho funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto a letra da canção dança pelo tempo, detalhando paisagens descritivas que parecem saídos de momentos muito específicos da vida na Terra (“A Terra era como um Éden / Todo mundo sabe / Os dinossauros eram felizes / Até congelarem“), guitarras sempre calculadas, harmonias de vozes e inserções delirantes levam o disco para outras direções. É como a passagem para um universo criativo próprio do instrumentista, porém, sempre convidativo, mágico e aberto ao público.

Livre do reducionismo contemplativo que marca o disco anterior, Mutable Set (2020), Mills se concentra na formação de um álbum nada tradicional, mas que estabelece momentos de maior conexão com o ouvinte. São ecos de Fleetwood Mac, diálogos esporádicos com o jazz e instantes em que Mills partilha do mesmo uso hipnótico das guitarras, como um aceno para as criações de nomes como Wilco. Uma das primeiras composições do disco a serem reveladas ao público, Skeleton Is Walking, com seu solo poderoso, funciona como uma expressiva representação desse resultado, ampliando consideravelmente os limites do registro.

Em geral, são canções que partem de uma abordagem previsível, emulando o estilo de produção dos anos 1970, mas que inesperadamente mudam de direção e abrem passagem para um curioso território criativo. Exemplo disso fica bastante evidente em There Is No Now, composição que parte de uma base econômica, faz lembrar as criações de Elliott Smith em início de carreira, porém, utiliza da inserção de flautas e outros componentes que partilham do mesmo experimentalismo sutil de nomes como Grizzly Bear. É como um jogo de pequenos acréscimos que embala a experiência do ouvinte até a chegada de Without An Ending.

A diferença em relação a outros trabalhos produzidos pelo artista, como o homônimo álbum de 2010 e o bem-recebido Heigh Ho (2014), está no olhar curioso e interpretação de Mills sobre o cancioneiro norte-americano. Da escolha dos temas, passando pela construção dos arranjos, tudo parece ambientado em um cenário árido, como um diálogo poético e instrumental do artista com a imagem de capa do disco. A própria música de abertura, Suchlike Horses, funciona como uma boa representação desse resultado, preparando o caminho para o que se revela de forma ainda mais interessante no decorrer de Jelly Road.

Dessa forma, Mills garante ao público um registro essencialmente diverso, porém, consistente, como se ambientado em um mesmo território criativo. Claro que algumas das composições, embora íntimas desse direcionamento adotado pelo artista, ecoam de maneira deslocada ou talvez menos expressiva em relação ao restante da obra, vide o som compacto de A Fez e a morosidade excessiva em Unsingable. São percursos desinteressantes e efêmeros na mesma proporção, como se mesmo nos momentos de maior instabilidade de Jelly Road, o músico estadunidense fosse capaz de manter o domínio criativo sobre a própria criação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.