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Crítica

Blood Incantation

: "Absolute Elsewhere"

Ano: 2024

Selo: Century Media

Gênero: Death Metal, Metal Progressivo

Para quem gosta de: Tomb Mold e Artificial Brain

Ouça: The Stargate [Tablet I] e The Message [Tablet III]

8.5
8.5

Blood Incantation: “Absolute Elsewhere”

Ano: 2024

Selo: Century Media

Gênero: Death Metal, Metal Progressivo

Para quem gosta de: Tomb Mold e Artificial Brain

Ouça: The Stargate [Tablet I] e The Message [Tablet III]

/ Por: Cleber Facchi 11/10/2024

Há dois anos, quando os membros do Blood Incantation deram vida ao atmosférico Timewave Zero (2022), havia ficado bastante claro o interesse do grupo formado por Isaac Faulk, Paul Riedl, Morris Kolontyrsky e Jeff Barrett em investir na formação de um repertório marcado pelo uso de temas cósmicos. No lugar das vozes guturais, paredões de guitarras e batidas truculentas, o quarteto de Denver, no Colorado, encontrou em sintetizadores empoeirados da década de 1970 a passagem para um novo e curioso território criativo.

Vem justamente desse olhar atento para o passado o estímulo para o mais recente trabalho de estúdio do Blood Incantation, Absolute Elsewhere (2024, Century Media). Conceitualmente dividido em duas metades que, por sua vez, se fragmentam em três atos específicos, o registro destaca a capacidade do quarteto em equilibrar a força avassaladora do death metal aprimorado em Hidden History of the Human Race (2019) com um conjunto de temas instrumentais que conduzem o ouvinte para campos remotos do espaço sideral.

Fortemente influenciado pela obra de veteranos como Cluster, Popol Vuh e outros artistas que conduziram a cena germânica em direção ao cosmos, Absolute Elsewhere estabelece no primeiro bloco de canções a passagem para um universo quase transcendental. A própria participação de Thorsten Quaeschning, atual líder do Tangerine Dream, nos sintetizadores de The Stargate [Tablet II], parece contribuir ainda mais para esse resultado, destacando a busca do quarteto norte-americano por um repertório quase contemplativo.

Claro que isso não interfere na força dos arranjos que, logo nos momentos iniciais, parecem simplesmente atropelar o ouvinte. Da bateria espancada de Faulk, passando pelo embate das guitarras à linha de baixo sempre destacada, perceba como cada instrumento surge e desaparece de forma estratégica, tornando a experiência de ouvir o trabalho imprevisível. Mesmo os instantes de maior calmaria, dominados pelo uso de sintetizadores e formas flutuantes, trilham um percurso sinuoso, levando o álbum para outras direções.

Entretanto, é quando alcançamos a segunda metade do disco que todos esses elementos parecem melhor explorados, destacando a versatilidade e riqueza de ideias que move a obra do Blood Incantation. Longe das ambientações etéreas que marcam os minutos iniciais, o grupo se concentra na formação de músicas que vão direto ao ponto, rompendo com a produção germânica da década de 1970 para dialogar com o rock progressivo do mesmo período. Exemplo disso é o que acontece em The Message [Tablet II], canção que evoca o Pink Floyd em Wish You Were Here (1975), ganha forma em uma medida própria de tempo, porém desemboca na brutal combinação de guitarras, batidas e vozes guturais de The Message [Tablet III].

Partindo desse misto de calmaria e caos, o grupo não apenas potencializa o que havia testado nos últimos trabalhos de estúdio, como amplia significativamente o próprio campo de atuação. Mesmo que algumas das composições dependam de maneira excessiva do material base usado pelo quarteto como referência, principalmente na porção inicial do disco, prevalece durante toda a execução de Absolute Elsewhere um senso de preservação da própria identidade que vai das letras existencialistas a cada mínimo fragmento instrumental. São canções que partem de conflitos e experiências pessoais para se perder pelo cosmos.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.