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Crítica

Blue Lake

: "Sun Arcs"

Ano: 2023

Selo: Tonal Union

Gênero: Instrumental, Jazz, Folk

Para quem gosta de: Fabiano do Nascimento

Ouça: Bloom, Green-Yellow Field e Dallas

8.0
8.0

Blue Lake: “Sun Arcs”

Ano: 2023

Selo: Tonal Union

Gênero: Instrumental, Jazz, Folk

Para quem gosta de: Fabiano do Nascimento

Ouça: Bloom, Green-Yellow Field e Dallas

/ Por: Cleber Facchi 29/08/2023

Em Sun Arcs (2023, Tonal Union), a música de Jason Dungan parece pensada de forma a transportar o ouvinte. Mais recente trabalho de estúdio do compositor estadunidense que há anos reside na região de Copenhagen, na Dinamarca, o registro apresentado sob a alcunha de Blue Lake destaca a capacidade do músico em brincar com as emoções e conduzir nossas experiência por meio da fluidez dos arranjos. São composições que começam pequenas, ganham forma aos poucos e estabelecem no encontro entre o jazz, o uso de temas atmosféricos e o cancioneiro norte-americano um precioso componente de estímulo criativo.

De atmosfera matutina, como um novo dia que se inicia, Sun Arcs apresenta parte dos elementos que serão incorporados pelo artista logo na introdutória Dallas. Partindo de um dedilhado tímido, a composição aos poucos se permite adornar pelo uso calculado das batidas, instrumentos de sopro e arranjos de cordas sempre discretos, posicionando o violão em primeiro plano. É como se Dungan, que já acumula uma série de outros registros marcados pelo mesmo refinamento, como Moving (2020) e o ainda recente Stikling (2022), partisse do de uma abordagem bastante similar ao trabalho de compositores como William Tyler e Fabiano do Nascimento, porém, de forma ainda mais delicada e totalmente imersiva, envolvendo o ouvinte.

Nada que prejudique a construção de canções pontuadas por momentos de maior experimentação. É o caso da faixa posterior, Green-Yellow Field, em que utiliza de efeitos para expandir os limites da própria criação. Partindo dessa abordagem, Dungan ainda abre passagem para a composição seguinte, Bloom, música que combina todos esses elementos de forma essencialmente harmônica. São ambientações sutis que se espalham em meio a batidas e sobreposições acústicas, reforçando a sensação de movimento, como se um road movie, com diferentes cenas e paisagens instrumentais, tivesse início dentro de nossa cabeça.

Passado esse momento de maior agitação e com o ouvinte confortavelmente acomodado dentro do disco, Rain Cycle desacelera de forma a explorar um novo território criativo. Enquanto a bateria minimalista tende ao jazz, violões retorcidos, efeitos e bases acinzentadas reforçam o experimentalismo do multi-instrumentista. É como um lento desvendar de informações, estrutura que acaba se refletindo na música seguinte, Writing. Livre de qualquer traço de urgência, a canção brinca com o sutil movimento das cordas, assumindo percursos pouco usuais e flertando com a psicodelia, porém, preservando a essência do álbum.

Minutos à frente, em Fur, Dungan traz de volta a mesma fluidez explícita nos minutos iniciais do trabalho. A diferença está na forma como o compositor se aprofunda nos detalhes, garantindo maior destaque ao uso dos sopros, batidas e pianos complementares que correm ao fundo da canção. São incontáveis camadas instrumentais e pequenas sobreposições que garante maior profundidade ao material. Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo na composição seguinte, a própria faixa-título, música que encanta pelo evidente esmero do artista, porém, soa como uma repetição das ideias apresentadas em Green-Yellow Field.

Com Wavelength como canção de encerramento, Dungan traz de volta uma série de elementos testados ao longo do registro, contudo, utiliza da longa duração do material para mais uma vez brincar com as possibilidades em estúdio. São pouco mais de nove minutos em que o músico transita por entre estilos, potencializa o uso dos teclados e ainda se aprofunda nas mesmas ambientações cósmicas de nomes como Laraaji. Frações instrumentais que estabelecem pequenas conexão com diferentes faixas no decorrer do trabalho, mas que a todo momento mudam de direção e sutilmente ampliam o campo de atuação do artista.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.