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Crítica

Bolis Pupul

: "Letter To Yu"

Ano: 2024

Selo: Deewee

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: LCD Soundsystem e Hot Chip

Ouça: Completely Half e Ma Tau Wai Road

8.0
8.0

Bolis Pupul: “Letter To Yu”

Ano: 2024

Selo: Deewee

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: LCD Soundsystem e Hot Chip

Ouça: Completely Half e Ma Tau Wai Road

/ Por: Cleber Facchi 04/04/2024

Filho de pai belga e mãe chinesa, Bolis Pupul teve parte de seu contato com a cultura oriental arrancado quando, em meados de 2008, sua progenitora teve a vida ceifada em um acidente de carro. Uma década mais tarde, enquanto visitava a região de Hong Kong, onde ela havia nascido, o produtor se reconectou com a própria herança asiática, escreveu uma carta simbólica à própria mãe e fez disso o estímulo para a formação do repertório agora organizado no primeiro disco em carreira solo, Letter To Yu (2024, Deewee).

Obra de possibilidades, como tudo aquilo que Pupul havia testado há dois anos, quando uniu forças com Charlotte Adigéry para dar vida ao provocativo Topical Dancer (2022), Letter To Yu destaca o esforço do produtor em celebrar a própria herança chinesa, porém, estreitando laços com as pistas. Não por acaso, o artista decidiu colaborar com os irmãos David a Stephen Dewaele, do projeto Soulwax, encontrando o equilíbrio para a formação de um material tão contemplativo quanto musicalmente libertador e dançante.

Exemplo disso fica evidente em Completely Half. Enquanto os versos destacam a viagem existencial de Popul em busca do própria origem e herança cultural (“Estou em um trem, um trem rumo a você / Sem saber realmente o que farei“), camadas de sintetizadores e batidas cuidadosamente calculadas impedem que o artista se perca em um resultado excessivamente contemplativo. São momentos de maior calmaria, porém, pontuados pelo sutil atravessamento de informações que levam o material para outras direções.

Esse mesmo direcionamento acaba impactando a própria estrutura do registro, que continuamente alterna entre composições introspectivas e faixas que convidam o ouvinte a dançar. Uma abordagem que acaba se revelando de maneira previsível ao longo do trabalho, como se fosse possível antecipar cada movimento de Popul, mas que estabelece justamente nessa relação com as vozes e arranjos típicos da música chinesa um importante elemento de ruptura. Instantes em que o artista se permite brincar com a própria identidade.

Em Ma Tau Wai Road, por exemplo, o produtor não apenas utiliza de uma progressão de sintetizadores que instantaneamente aponta para a música chinesa, como divide espaço com a própria irmã, Salah, e ainda estabelece no reducionismo dos elementos uma confissão de suas principais referências criativas. São ecos de Kraftwerk e Yellow Magic Orchestra, porém, pontuados pelo uso de componentes regionais. É como um colorido catálogo de ideias que parte de um resultado inicialmente contido para consolidar algo grandioso.

Partindo dessa jornada emocional, estética e cultural, Pupul garante ao público um material amplo, porém, consistente durante toda sua execução. Seja pela escolha dos timbres ou pelo tratamento dado aos vocais, batidas e sintetizadores, perceba como tudo gira em torno de um mesmo universo temático. Dessa forma, o artista vai de faixas puramente dançantes, como Kowloon, à canções econômicas, caso de Cosmic Rendez-Vous, de maneira sempre aproximada, como a passagem para um território criativo totalmente particular.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.