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Crítica

Boygenius

: "The Record"

Ano: 2023

Selo: Interscope

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Snail Mail e Soccer Mommy

Ouça: Not Strong Enough, $20 e Satanista

8.5
8.5

Boygenius: “The Record”

Ano: 2023

Selo: Interscope

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Snail Mail e Soccer Mommy

Ouça: Not Strong Enough, $20 e Satanista

/ Por: Cleber Facchi 06/04/2023

Um espaço para compartilhar memórias traumáticas, momentos de maior vulnerabilidade e sentimentos. Essa tem sido a principal função do Boygenius desde que Phoebe Bridgers, Lucy Dacus e Julien Baker entraram em estúdio pela primeira vez para investir em um projeto colaborativo. Depois de um processo de experimentação que resultou em um autointitulado EP de estreia, o trio norte-americano volta a se encontrar em The Record (2023, Interscope), trabalho que preserva o lirismo confessional incorporado ao registro anterior, porém, potencializa o caráter emocional e evidente entrega de cada integrante da banda.

Fale comigo / Até que sua história não seja nenhum mistério para mim“, cresce o delicado coro de vozes na introdutória Without You Without Them, composição que não apenas reforça o caráter acolhedor do registro, como prepara o terreno para tudo aquilo que será apresentado pelo trio ao longo da obra. São canções que partem de experiências particulares vividas durante o período de isolamento social, resgatam lembranças empoeiradas e sustentam na permanente sobreposição de vozes um componente que parece alavancar os sentimentos, temas e diferentes narrativas incorporadas pelo trio no decorrer do trabalho.

Já conhecida do público, Not Strong Enough funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto camadas de guitarras e batidas se revelam em pequenas doses, culminando em um fechamento catártico, vozes em coro potencializam a letra que trata sobre a síndrome do impostor, diminuir as próprias expectativas e ainda ironizam a falácia da inferioridade feminina. “Sempre um anjo, nunca um deus / Sempre um anjo, nunca um deus“, repete o trio. Instantes em que o grupo oscila entre o acolhimento e a busca por libertação, sobrepondo ideias em uma abordagem marcada pela pluralidade de elementos.

Vem justamente dessa capacidade do trio em transitar por diferentes temáticas dentro de cada canção a real beleza do repertório apresentado em The Record. Exemplo disso fica bastante evidente em Satanist, música que parte das experiências religiosas vividas por Baker na infância para discutir a durabilidade e força de uma amizade. Minutos à frente, em Letter To An Old Poet, o grupo vai de abusos emocionais à sensação de segurança compartilhada pela banda em estúdio. É como se cada integrante atuasse de forma a complementar os versos desenvolvidos de forma sempre colaborativa, ampliando os limites da obra.

Essa mesma riqueza no processo de composição acaba se refletindo no tratamento dado aos arranjos. Longe do som compacto que parecia orientar o trabalho da banda no registro anterior, The Record chama a atenção pelo uso destacado das guitarras e incontáveis camadas instrumentais que correm ao fundo de cada canção. É o caso de $20, música que evidencia o completo domínio criativo do trio. Parte desse resultado vem do esforço do grupo em estreitar laços com outras mulheres em estúdio, como Sarah Tudzin (Illuminati Hotties), Melina Duterte (Jay Som) e a coprodutora Catherine Marks (PJ Harvey, Wolf Alice).

Dessa forma, o trio apresenta ao público um registro que pode ser absorvido em totalidade logo em uma primeira audição, mas que ganha maior destaque quando observado em suas particularidades. Das ambientações sutis que se conectam aos versos empoeirados de True Blue, passando pelo lento desvendar de informações que resultam na transcendental Revolution 0, cada fragmento do trabalho carrega um universo de pequenos detalhes. É como uma combinação natural do que existe de melhor na obra de cada integrante em carreira solo, porém, organizado em uma abordagem que pertence apenas ao Boygenius.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.