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Crítica

Braids

: "Euphoric Recall"

Ano: 2023

Selo: Secret City

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Björk e Austra

Ouça: Apple, Evolution e Retrivier

7.6
7.6

Braids: “Euphoric Recall”

Ano: 2023

Selo: Secret City

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Björk e Austra

Ouça: Apple, Evolution e Retrivier

/ Por: Cleber Facchi 22/05/2023

Mais de uma década após a entrega do primeiro álbum, Native Speaker (2011), os integrantes do Braids continuam seguindo o caminho menos óbvio em estúdio. Quinto e mais recente registro de inéditas do grupo canadense, Euphoric Recall (2023, Secret City) destaca o esforço do trio formado por Raphaelle Standell-Preston, Austin Tufts e Taylor Smithem tensionar os limites da própria obra. Mesmo a escolha de Supernova como música de abertura, com oito minutos de duração, diferentes curvas instrumentais e entalhes rítmicos funciona como uma boa representação de tudo aquilo que a banda busca desenvolver.

E ela está longe de ser a única composição a brincar com os sentidos do ouvinte. Diferente do registro que o antecede, Shadow Offering (2020), em que havia um direcionamento ritmado para dar movimento ao trabalho, Standell-Preston e seus parceiros de banda investem um repertório que assume formatações pouco usuais e canções que se apresentam em uma medida própria de tempo. Uma das primeiras faixas a serem entregues ao público, Retriever, com quase dez minutos de duração, encolhe e cresce a todo instante, sintetizando de forma eficiente a maneira como o grupo se articula em estúdio.

São canções que se revelam aos poucos, detalhando incontáveis camadas de sintetizadores, texturas e vozes muitas vezes tratadas como um instrumento complementar. Exemplo disso fica bastante evidente em Evolution. Já conhecida do público, a composição parte de uma bateria cíclica, porém, encanta pelo lento desvendar das informações e vozes que surgem e desaparecem durante toda a execução da faixa. É como um resgate das estruturas e temas incorporados em Flourish // Perish (2013) e Deep in the Iris (2015), mas que se completa pelo uso de formatações deliciosamente labirínticas, ampliando os limites do material.

Embora pontuado por instantes de maior experimentação, Euphoric Recall em nenhum momento deixa de dialogar com o ouvinte por meio dos sentimentos e poesia sensível que orienta parte expressiva das canções. “A linha central, terceiro olho, até a linha do assoalho pélvico / Meu coração já sentiu essa linha cheia?“, questiona em Apple, música que destaca a vulnerabilidade e lirismo caprichoso de Standell-Preston. Canções que partem de experiências pessoais, romances e temas existenciais, reforçando o minucioso processo de composições que orienta as criação do grupo canadense desde Native Speaker.

Tamanho esmero no processo de montagem do trabalho acaba justamente destacando os momentos de sutil imperfeição que surgem ao longo da obra. É o caso de Lucky Star. Embora marcada pela delicadeza dos versos (“Eu sinto sua falta o tempo todo, mesmo com você“), a composição pouco acrescenta musicalmente quando próxima de outras faixas do disco, soando como um esboço ou um exercício ainda incompleto. O mesmo pode ser percebido em Left/Right, canção que chama a atenção pela completa ruptura nos minutos iniciais, mas que se perde aos poucos e assume uma formatação contida.

Claro que esses pequenos tropeços em nada diminuem a força e beleza do trabalho. Do momento em que tem início, na já citada Supernova, evidente é o esforço do trio em jogar com as possibilidades em estúdio. Mesmo que ecos dos registros anteriores sejam percebidos durante toda a execução do material, Standell-Preston e seus parceiros partem de um genuíno desejo de transformação. Composições que utilizam de experimentações sutis com a música eletrônica, flertam com o jazz e pervertem o pop em uma abordagem que orienta de forma cativante a experiência do ouvinte até os últimos minutos de Euphoric Recall.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.