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Crítica

Brasileiro Garantido

: "Churros Recheado"

Ano: 2022

Selo: 40% Foda/Maneiríssimo

Gênero: Eletrônica, Breakbeat, Footwork

Para quem gosta de: Pessoas Que Eu Conheço

Ouça: CR002 e CR003

7.8
7.8

Brasileiro Garantido: “Churros Recheado”

Ano: 2022

Selo: 40% Foda/Maneiríssimo

Gênero: Eletrônica, Breakbeat, Footwork

Para quem gosta de: Pessoas Que Eu Conheço

Ouça: CR002 e CR003

/ Por: Cleber Facchi 09/12/2022

Brasileiro Garantido, uma das diferentes identidades criativas adotadas por Gabriel Guerra, segue como o projeto mais inventivo e deliciosamente inusitado do cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor carioca. Depois de estrear em grande estilo com o curioso Bolinhas de Queijo (2022), trabalho em que vai do experimentalismo eletrônico ao jazz de forma sempre particular, e de regressar meses mais tarde com o EP Minipizzas (2021), o ex-integrante de bandas como Dorgas e Séculos Apaixonados faz do material apresentado em Churros Recheado (2022, 40% Foda/Maneiríssimo) uma de suas principais criações.

Marcado pela propositada irregularidade dos elementos, quebras e uso de trilhas pouco convencionais que convidam o ouvinte a se perder em um território marcado pela incerteza, Churros Recheado faz de cada canção um objeto a ser explorado de forma minuciosa. São composições marcadas pela repetição dos elementos, uso fragmentado das vozes e pequenos atravessamentos de informações que tornam tudo ainda mais interessante. É como se Guerra fosse de encontro ao mesmo território criativo de estrangeiros como RP Boo e Jlin, com suas batidas tortas e quebras bruscas, porém, preservando o habitual bom humor.

A sobremesa é sempre doce e a diversão é garantida, se não não seria o brasileiro“, brinca o produtor no texto de apresentação do trabalho. É partindo dessa abordagem descomplicada, ainda que consciente, que Guerra orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução do trabalho. São canções que vão de um canto a outro, sempre imprevisíveis, porém, dotadas de um curioso limite criativo, direcionamento que vai da construção das batidas ao uso dos sintetizadores tratados de forma complementar. Um estranho senso de ordem que orienta, aproxima, amplia e possibilita ao artista a chance de perverter as próprias regras.

Inaugurado de forma tímida por CR005, Churros Recheado se apresenta ao público em pequenas doses. Enquanto parte das composições soam como experimentações caseiras do artista, ampliando aquilo que Guerra tem explorado em outros projetos do selo 40% Foda/Maneiríssimo, outras parecem pensadas para fazer o ouvinte dançar. E é aí que reside a real beleza do som desenvolvido pelo produtor carioca. Exemplo disso fica bastante evidente CR002, música que destaca o uso dos sintetizadores, sustenta na construção das batidas um curioso olhar para o passado e ainda preserva o que há de mais torto na obra do artista.

O mesmo volta a se repetir minutos à frente, em CR003. São pouco menos de cinco minutos em que o produtor estreita a relação com as pistas sem necessariamente perverter o minucioso processo de criação que orienta parte expressiva do registro. Da fina tapeçaria instrumental que se revela ao fundo da canção, passando pelo uso de pequenos acréscimos e bases que apontam para MJ Cole e outros nomes da cena inglesa, tudo parece pensado para capturar a atenção do ouvinte. Mesmo quando desacelera, como em CR007 e CR008, prevalece o esmero e capacidade do artista em brincar com a interpretação do ouvinte.

Completamente distinto em relação a outros trabalhos lançados pelo produtor nos últimos meses, como Ida Aos Correios (2022) e o atmosférico Cidade Grande (2022), Churros Recheado destaca o domínio criativo e capacidade do artista carioca em transitar por entre estilos de forma sempre versátil. Mesmo que muitas das canções reveladas ao longo do registro se projetem de forma irregular, como ideias em formação, ainda incompletas, Guerra utiliza justamente dessas pequenas oscilações para seduzir o ouvinte. São retalhos instrumentais, batidas e vozes picotadas que se distanciam do óbvio para jogar com as possibilidades.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.