Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: Experimental
Para quem gosta de: Kaatayra e Vauruvã
Ouça: Médium, Enlutados e Baile Fantasma
Ano: 2024
Selo: Independente
Gênero: Experimental
Para quem gosta de: Kaatayra e Vauruvã
Ouça: Médium, Enlutados e Baile Fantasma
Desde a estreia com Entre Tudo que é Visto e Oculto (2020), o multi-instrumentista, compositor e produtor brasiliense Caio Lemos tem feito do Bríi um permanente exercício de reflexão sobre a morte. Entretanto, foi com o avanço do período pandêmico que essa relação se intensificou, culminando na entrega de trabalhos cada vez mais carregados, como Corpos Transparentes (2022). É justamente dentro desse mesmo território criativo que Lemos continua a se aventurar nas canções de Camaradagem Póstuma (2024, Independente).
Vindo em sequência ao material entregue no ainda recente Último Ancestral Comum (2023), o registro de cinco faixas segue a trilha do antecessor, preservando a atmosfera típica do black metal, porém, deixando as vozes guturais e guitarras turbulentas em segundo plano. Em geral, são canções que destacam o aspecto melódico da obra e ainda potencializam a relação do artista com a produção eletrônica, conceito reforçado nos mais de nove minutos da introdutória Médium, composição que sintetiza parte dos temas do trabalho.
Não por acaso, com o ouvinte ambientado ao disco, Lemos reaparece ainda mais intenso na faixa seguinte, Aparecidos. Enquanto os versos tratam sobre o reencontro no pós-vida (“Esquecidos talvez, mas aparentes / Esperamos aqui por tanto tempo”), batidas se elevam de maneira sempre grandiosa, contrastando com a fluidez dos sintetizadores e guitarras melancólicas que escorrem ao fundo da canção. Um conflitante jogo de sensações, mas que nunca parece fugir ao controle do instrumentista, totalmente seguro de suas ações.
Exemplo disso fica ainda mais evidente em Enlutados. Mesmo partindo de uma abordagem bastante similar aos antigos discos do Bríi, como Sem Propósito (2021), há sempre um novo componente de tensão criativa que conduz o material para diferentes direções. Nesse caso, são as batidas que partem de um acabamento orgânico e ritualístico para mergulhar em um ambiente puramente sintético. Pouco mais de sete minutos em que o brasiliense surge de maneira imponente, valorizando cada mínimo fragmento da própria criação.
Tudo é tão grandioso que, ao avançarmos para a próxima música, Entre Mundos, fica bastante evidente o desnível entre uma composição e outra. Peça mais curta do registro, a canção de três minutos talvez seja a que mais aproxima o artista da produção eletrônica, porém livre da mesma complexidade e refinamento aplicado ao restante do material. Da inserção das batidas, passando pelo minimalismo dos sintetizadores, difícil não pensar na canção como um preparativo para a criação seguinte, a ascendente Baile Fantasma.
Escolhida para o encerramento do disco, a faixa de mais de cinco minutos é tanto um acúmulo natural de tudo aquilo que Lemos desenvolve desde a introdutória Médium, como a passagem para um novo território criativo. Enquanto os minutos iniciais garantem maior destaque às guitarras, a porção seguinte conduz o ouvinte em direção às pistas. É como um contraponto festivo ao soturno ato de abertura do trabalho. Uma espécie de rave fantasmagórica que destaca o sempre distorcido e imprevisível processo de criação de Lemos.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.