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Crítica

Brittany Howard

: "What Now"

Ano: 2024

Selo: Island

Gênero: Soul, Funk, Rock

Para quem gosta de: Moses Sumney e Lianne La Havas

Ouça: Prove It To You, What Now e Red Flags

8.4
8.4

Brittany Howard: “What Now”

Ano: 2024

Selo: Island

Gênero: Soul, Funk, Rock

Para quem gosta de: Moses Sumney e Lianne La Havas

Ouça: Prove It To You, What Now e Red Flags

/ Por: Cleber Facchi 16/02/2024

Longe do Alabama Shakes, Brittany Howard parece ter encontrado a passagem para um território criativo ainda mais interessante e musicalmente diverso. Exemplo disso fica bastante evidente com a apresentação de What Now (2024, Island), obra em que resgata uma série de elementos característicos do antigo projeto, vide a forte relação com a música negra dos anos 1950 e 1960, porém, partindo de um permanente senso de atualização poético, instrumental e rítmico que leva o fino repertório de Howard para outras direções.

Síntese desse curioso processo de transformação vivido pela cantora, Prove It To You evidencia o esforço da musicista em ampliar o próprio campo de atuação. Do momento em que tem início, nas batidas secas que se completam pelos teclados de Lloyd Buchanan, Howard, sempre em companhia do produtor Shawn Everett (Kacey Musgraves, The Killers), se permite provar da música eletrônica, porém, preservando sua identidade e vozes sempre impecáveis. É como um remix pulsante de tudo aquilo que a compositora havia testado no álbum anterior, Jaime (2019), princípio de todas as mudanças consolidadas no presente disco.

E ela está longe de parecer o único ponto de ruptura criativa explorado em What Now. Em Red Flags, por exemplo, Howard traz de volta o mesmo soul empoeirado que tem sido incorporado desde os primeiros discos com o Alabama Shakes, porém, utilizando de uma série de elementos instrumentais e percussivos que levam a canção para outras direções. Mesmo a voz, sempre meticulosa, surge retrabalhada, como uma ferramenta versátil a ser explorada de acordo com as novas necessidades da musicista dentro de estúdio.

Claro que esse esforço de Howard em provar de novas possibilidades em nenhum momento afasta a artista de tudo aquilo que havia testado nos trabalhos anteriores. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida na faixa-título do disco. Partindo de uma base funkeada que faz lembrar de Don’t Wanna Fight e outras composições apresentadas em Sound & Color (2015), a faixa traz de volta a essência das primeiras criações da musicista na mesma medida em que estabelece nos teclados, guitarras e componentes rítmicos um material totalmente dançante, pop, como se íntimo do Daft Punk em Random Access Memories (2013).

São momentos de maior exaltação criativa, porém, sempre pontuados pela inserção de composições que destacam o lado intimista, por vezes meditativo, de Howard. A própria sequência formada pela já citada Prove It To You e Samson funciona como uma clara representação desse resultado. Um misto de caos e calmaria que torna a experiência de ouvir o trabalho talvez previsível, como se fosse possível antecipar cada novo movimento da artista, mas não menos interessante, efeito direto do sempre cuidadoso processo de criação que acaba se refletindo até os minutos finais do disco, no som labiríntico de Every Color in Blue.

Todo esse capricho resulta na entrega de uma obra de beleza incontestável, mas que em nenhum momento ecoa de maneira excessivamente plástica. Assim como nos trabalhos anteriores, a força da cantora está nos instantes de ruptura, nas tensões sentimentais e vulnerabilidades explícitas durante toda a execução do material. É como se cada nova composição servisse de resposta à inquietação explícita no próprio título do registro, como um espaço permanentemente aberto à desconstrução da identidade artística de Howard.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.