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Crítica

Bruno Bruni

: "Broovin 3"

Ano: 2023

Selo: Matraca Records / YB Music

Gênero: Jazz, Funk, Soul

Para quem gosta de: Pluma e Garotas Suecas

Ouça: Call Me, Sem Palavras e Eu Erro Sempre

8.5
8.5

Bruno Bruni: “Broovin 3”

Ano: 2023

Selo: Matraca Records / YB Music

Gênero: Jazz, Funk, Soul

Para quem gosta de: Pluma e Garotas Suecas

Ouça: Call Me, Sem Palavras e Eu Erro Sempre

/ Por: Cleber Facchi 10/11/2023

Terceiro e mais recente capítulo da série iniciada há cinco anos, Broovin 3 (2023, Matraca Records / YB Music) mostra Bruno Bruni em sua melhor forma. Inaugurado por You’re Alive, bem-sucedido encontro com a cantora e compositora Laura Lavieri, o registro de sete faixas captura a atenção do ouvinte logo nos momentos iniciais. São pouco menos de sete minutos em que o pianista, sempre acompanhado por um time seleto de colaboradores, conduz o trabalho em direção ao passado e confessa algumas de suas principais referências sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma obra consumida pela nostalgia barata.

Uma vez estabelecido dentro do disco, o ouvinte é constantemente bombardeado por uma combinação de elementos que vai do jazz ao funk, da música brasileira ao pop em uma abordagem que facilmente se perderia nas mãos de um artista iniciante, mas que reverbera de maneira consistente aos comandos de Bruni. Exemplo disso fica bastante evidente no que talvez seja a principal canção do trabalho, Call Me. Com vozes de Marina Marchi, a faixa de essência abrasiva parte dos encontros e desencontros de um casal, porém, cresce no colorido atravessamento de informações e ritmos que mesmo íntimos de veteranos como Marcos Vale e Hermeto Pascoal, em nenhum momento ocultam a identidade criativa de músico paulistano.

É como um espaço permanentemente aberto às possibilidades, estrutura que acaba se refletindo mesmo nos momentos mais efêmeros da obra, como na curtinha O Jardinzinho, música que se engrandece pelo naipe de metais que acompanha o ouvinte durante toda a execução do material. Um aperitivo para o que se revela de forma ainda mais interessante na composição seguinte, Sem Palavras. Criação que mais se aproxima dos antigos trabalhos do instrumentista, a colaboração com a alagoana Marina Nemésio encolhe e cresce a todo instante, como uma soma das ideias que tem sido incorporadas desde o registro anterior.

Nada que impossibilite a criação de composições que levam o disco para outras direções. É o caso de Ela Sabe. Mesmo ancorada na década de 1970, principal fonte de inspiração para o trabalho de Bruni, a faixa chama a atenção pelo frescor pop, como uma canção perdida de Rita Lee na fase Tutti Frutti. O próprio instrumentista faz as vezes de cantor, evidenciando o esforço em testar limites e ampliar os domínios da própria obra. “Uma vez ela me deu carona / Mas não sei se foi sorte ou azar / Pois um pingo de esperança / Não devia mas ficou no ar“, confessa o artista em uma idealização platônica que, assim como em Call Me, faz de relações e temas simples do cotidiano um componente de estimulo para a construção dos versos.

Esse mesmo direcionamento criativo fica ainda mais evidente com a chegada de Eu Sempre Erro. Uma das primeiras faixas do disco a serem apresentadas ao público, a parceria com Guilherme Lírio faz da confusão explícita nos versos o estímulo para uma canção de essência cômica, porém, tão atrativa e musicalmente imprevisível quanto qualquer outra criação revelada ao longo do trabalho. Enquanto os teclados de Bruni passeiam com liberdade, abrindo espaço para a combinação entre metais, batidas e guitarras, Lírio assume a direção das vozes que parecem pensado para grudar na cabeça do ouvinte logo na primeira audição.

Passado esse radiante momento de maior agitação, No Escuro chega para encerrar o trabalho. Embora menos expressiva em relação ao restante do disco, a faixa completa pela participação da cantora Marina Marchi destaca a sensibilidade de Bruni em estúdio. São arranjos e estruturas diminutas, mas não menos detalhistas, vide o desenho fluido do saxofone e a guitarra sempre marcada pelo groove. Pinceladas instrumentais e poéticas que desaceleram aos poucos, conduzem o ouvinte em direção a um pôr-do-sol sensorial e pontuam, mesmo que temporariamente, a excitante jornada iniciada pelo músico paulistano.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.