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Crítica

Bruno Morais

: "Poder Supremo"

Ano: 2022

Selo: Sony Music

Gênero: Rock Psicodélico, Soul, Funk

Para quem gosta de: Lucas Santtana e Curumin

Ouça: Para Alguém No Deserto e Divindade

8.5
8.5

Bruno Morais: “Poder Supremo”

Ano: 2022

Selo: Sony Music

Gênero: Rock Psicodélico, Soul, Funk

Para quem gosta de: Lucas Santtana e Curumin

Ouça: Para Alguém No Deserto e Divindade

/ Por: Cleber Facchi 25/03/2022

Cantor, compositor e produtor nascido na cidade de Londrina, região Norte do Paraná, Bruno Morais sempre estabeleceu no forte aspecto colaborativo um estimulo para a própria obra. E isso fica bastante evidente quando voltamos os ouvidos para o repertório de A Vontade Superstar (2009), último trabalho em carreira solo e um campo aberto ao diálogo com diferentes nomes da cena brasileira, como Marcelo Jeneci, Romulo Fróes e Guilherme Kastrup, com quem divide a produção do material. Entretanto, mesmo imerso nesse cenário marcado pelo uso de interferências externas, interessante perceber em Poder Supremo (2022, Sony Music), novo registro de inéditas, um exercício em que transcende os próprios limites.

Primeiro trabalho de estúdio em mais de uma década, o registro que levou cinco anos até ser finalizado funciona como a passagem para um território mágico. Utilizando da colorida imagem de capa, uma criação do ilustrador paulistano Zansky, o músico paranaense convida o ouvinte a se perder em um cenário onde sonho e realidade se confundem a todo instante. São composições que utilizam de questões existenciais, experiências cósmicas e reflexões que partem das memórias compartilhadas pelo próprio artista, porém, completas pela interferência de nomes importantes como o coletivo Bixiga 70, as cantoras Juçara Marçal e Anelis Assumpção, a atriz Julia Lemmertz e os coprodutores Guilherme Kastrup e Maurício Fleury.

É como uma extensão natural de tudo aquilo que Morais havia testado durante a produção de A Vontade Superstar, porém, partindo de uma abordagem ainda mais complexa e detalhista, proposta que embala a experiência do ouvinte até a autointitulada música de encerramento. Uma vez imerso nesse ambiente de emanações cósmicas, cores e sobreposição, cada composição exige uma audição atenta. São incontáveis camadas instrumentais, texturas e coros de vozes que garantem maior profundidade ao registro, como um acumulo natural de tudo aquilo que artista tem explorado dentro e fora de estúdio desde o disco anterior.

Exemplo disso acontece na releitura de Divindade, de Walter Franco. Enquanto os versos, trabalhados de maneira cíclica, funcionam como um mantra (“É divindade que me bate no peito / É divindade o seu coração / É divindade, é bonito, é perfeito / É divindade, é satisfação“), guitarras marcadas pela suculência dos arranjos, metais e harmonias de vozes ampliam os limites da canção. Pouco mais de quatro minutos em que Morais e seus parceiros de estúdio parecem brincar com as possibilidades, conceito que se reflete em outros momentos ao longo da obra, como em Alguém No Deserto, música que evoca Erasmo Carlos e Tim Maia, e na detalhista Clarão, composição que parece pensada para as apresentações ao vivo do artista.

Mesmo quando desacelera, como em Seed, evidente é o esforço de Morais em preservar o refinamento estético que serve de sustento ao disco. São inserções minuciosas, costuras e entalhes percussivos que ganham forma em uma medida própria de tempo, sem pressa. Instantes em que o músico vai da euforia ao recolhimento de maneira sempre minuciosa, preservando a homogeneidade do trabalho. Se por um lado essa forte aproximação entre as faixas evidencia o domínio do artista e seus parceiros em estúdio, por outro, torna a experiência de ouvir o registro arrastada, principalmente na segunda metade do álbum, quando as estruturas e temáticas apresentadas pelo cantor nos minutos iniciais começam a se repetir.

Independente dos excessos, Poder Supremo é uma obra tão bem estruturada que é difícil não se deixar conduzir pela experiência proposta por Morais. Do momento em que tem início, em De Olhos Abertos, inusitada releitura de uma canção composta por Guto Graça Mello e Nelson Motta para a novela Cavalo de Aço, de 1973, cada composição parece servir de passagem para a faixa seguinte. É como um imenso labirinto de formas instrumentais, ritmos e vozes, proposta que segue de onde o músico parou em A Vontade Superstar, porém, alcança um resultado completamente imprevisível e transformador.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.