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Crítica

Buscabulla

: "Regresa"

Ano: 2020

Selo: Ribbon Music

Gênero: Art Pop, Música Latina, Synthpop

Para quem gosta de: Empress Of e Helado Negro

Ouça: NTE, Club Tú y Yo e Vámono

7.8
7.8

Buscabulla: “Regresa”

Ano: 2020

Selo: Ribbon Music

Gênero: Art Pop, Música Latina, Synthpop

Para quem gosta de: Empress Of e Helado Negro

Ouça: NTE, Club Tú y Yo e Vámono

/ Por: Cleber Facchi 03/06/2020

Formado pelo casal Raquel Berrios e Luis Alfredo Del Valle, o Buscabulla passou grande parte da última década em busca da própria identidade artística. Dos experimentos em EP I (2014), trabalho que contou com a produção de Dev Hynes (Blood Orange), passando pela adoção de uma sonoridade cada vez mais ensolarada, marca do sucessor EP II (2017), obra que marca o início da parceria com Roberto Carlos Lange (Helado Negro), cada novo passo dado pela dupla porto-riquenha parecia apontar para uma nova direção criativa. São variações instrumentais que vão da música latina ao pop, estrutura que ganha ainda mais destaque no primeiro álbum de estúdio da banda, Regresa (2020, Ribbon Music).

Produto das experiências e ideias acumuladas pelo casal desde o início da carreira, o trabalho que conta com a colaboração de Patrick Wimberly, ex-integrante do Chairlift, e o já citado Lange, costura passado e presente da dupla porto-riquenha de forma sempre detalhista. São incontáveis camadas instrumentais que surgem e desaparecem durante toda a execução da obra. Instantes em que a banda preserva parte da sonoridade detalhada nos antigos registros autorais, porém, se permite avançar criativamente, jogando com as possibilidades e formas pouco usuais dentro de estúdio.

Exemplo disso está no pop tropical de NTE. Uma das principais composições do disco a serem apresentadas ao público, a faixa parte de uma base semi-psicodélica, destaca o uso da percussão e segue em meio a variações funkeadas que ora apontam para o pop nostálgico dos anos 1980, ora dialoga com a obra de Neon Indian, Empress Of e outros nomes recentes também influenciados pela cultura latina. São retalhos instrumentais que se revelam de forma sempre atmosférica, como um complemento aos versos lançados por Berrios – “No te equivoque’, no / No te equivoque’, no“.

De fato, são essas pequenas variações rítmicas e sobreposições conceituais que tornam a experiência de ouvir Regresa tão satisfatória. Da pregação religiosa que cresce nos minutos iniciais de Manda Fuego, passando pelo flerte sutil com a disco music, em Nydia, perceba como diferentes elementos assentam ao fundo de cada composição. São quatro ou mais décadas de referências que se revelam de forma contida no interior do trabalho, como se diferentes obras fossem condensadas dentro de um único registro. Vozes, ruídos e captações caseiras que apontam para diferentes campos da música, como uma extensão natural de tudo aquilo que o casal tem explorado desde o surgimento com EP I.

Interessante observar que mesmo regido pelas possibilidades e temas pouco usuais, Regresa em nenhum momento se distancia de faixas mais acessíveis, feitas para serem absorvidas pelo ouvinte logo em uma primeira audição. É o caso da curtinha La Fiebre. Pouco mais de um minuto em que a dupla porto-riquenha se entrega ao R&B em uma linguagem deliciosamente acessível, pop, como uma parcial fuga do restante da obra. Mesmo a música de abertura do álbum, Vámono, com suas batidas e diálogos com a produção latina, em nenhum momento deixa de acolher o ouvinte, preparando a trilha para o restante da obra.

Feito para ser desvendado aos poucos, sem pressa, a estreia do Buscabulla é o típico caso de uma obra que parece maior a cada nova audição. Canções que mesmo capazes de dialogar com o ouvinte em um primeiro momento, detalham incontáveis camadas instrumentais, ruídos e melodias quase imperceptíveis. São ambientações nostálgicas que passam pelo pop dos anos 1980, utilizam de elementos da cultura porto-riquenha e mudam de direção sem ordem aparente, proposta que faz de Regresa uma obra essencialmente ampla, riqueza que se reflete tão logo o disco tem início, nas batidas de Vámono, e segue até o som atmosférico da derradeira Ta Que Tiembla.



Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.