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Crítica

Camp Cope

: "Running with the Hurricane"

Ano: 2022

Selo: Run For Cover

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Hop Along, MUNA e Haim

Ouça: Running with the Hurricane e Blue

7.6
7.6

Camp Cope: “Running with the Hurricane”

Ano: 2022

Selo: Run For Cover

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Hop Along, MUNA e Haim

Ouça: Running with the Hurricane e Blue

/ Por: Cleber Facchi 07/04/2022

Ouvir as canções de Running with the Hurricane (2022, Run For Cover), terceiro e mais recente trabalho de estúdio do Camp Cope, é como se transportar para dentro de um carro em movimento que corta a estrada em um dia ensolarado. Sequência ao material entregue em How to Socialise & Make Friends (2018),o registro mostra o esforço do trio formado por Georgia McDonald (voz, guitarra), Kelly-Dawn Hellmrich (baixo) e Sarah Thompson (bateria) em transformar as próprias desilusões, experiências e conquistas pessoais em um importante componente criativo para uma obra marcada pela fluidez dos elementos.

E isso fica bem representado na própria faixa-título do disco. Partindo de uma base econômica de guitarras, a composição ganha forma e cresce de forma a revelar incontáveis camadas instrumentais e pequenos acréscimos que parecem pensados para potencializar os versos detalhados por McDonald. “Quebrando essas correntes, correndo com o furacão / Comecei a pintar meu rosto, correndo com o furacão / Eu empurro a dor, correndo com o furacão“, canta em meio a pianos e batidas fortes, lembrando os momentos de maior libertação que parecem típicos das criações de veteranas como Bonnie Raitt e Stevie Nicks.

Essa mesma força no processo de composição acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo do trabalho. Em Blue, por exemplo, é onde a entrega emocional e sentimentos de McDonald afloram com maior naturalidade, estreitando a relação com o ouvinte. “E eu vou queimar essa ponte quando chegar nela / Sim, estou pegando fogo / É tudo triste / Você sabe o que eu sinto, aposto que sim“, confessa. São versos consumidos por memórias de um passado ainda recente e momentos de maior vulnerabilidade, sempre dolorosos, proposta que se reflete até a música de encerramento do registro, Sing Your Heart Out.

Embora regido pela potência das vozes, evidente aceleração e força dos instrumentos, Running with the Hurricane, assim como o trabalho que o antecede, encanta pelos momentos de maior fragilidade. São faixas como The Screaming Planet e a introdutória Caroline que parecem menores quando próximas do restante da obra, porém, dotadas do mesmo lirismo precioso. Já outras, como Jealous, alcançam um ponto de equilíbrio entre esses dois extremos. Instantes em que o trio australiano vai da euforia ao doce recolhimento, estrutura que tem sido aprimorado pela banda desde o autointitulado registro de estreia.

São justamente esses pequenos diálogos com o passado da própria banda que acabam diminuindo o impacto em relação ao trabalho. Observado de maneira atenta, Running with the Hurricane pouco avança quando próximo dos registros que o antecedem. Do momento em que tem início, na já citada Caroline, até alcançar os minutos finais do álbum, tudo gira em torno de um limitado conjunto de ideias e referências empoeiradas. Composições que evocam o rock estradeiro dos anos 1970 e 1980 de forma bastante característica, como se fosse possível prever cada mínimo movimento assumido pelo trio em estúdio.

Dessa forma, reside na poesia confessional e crua derramada por McDonald o elemento central para o fortalecimento do trabalho. São canções que tratam de relacionamentos fracassados, crises existenciais e angústias vividas pela compositora australiana, porém, dotadas de um fragilidade e entrega inigualável. Mesmo a base instrumental do disco, ancorada em estruturas talvez previsíveis, parece pensada de forma a catapultar os sentimentos detalhados pela cantora. Composições que tensionam, acolhem e orientam com naturalidade a experiencia do ouvinte durante toda a execução de Running with the Hurricane.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.