Ano: 2025
Selo: Registro Móvil Discográfica
Gênero: Indie Rock, Art Rock
Para quem gosta de: Asia Menor e Hesse Kassel
Ouça: Domingo de Ramos, Cáliz e Prisión de Carne
Ano: 2025
Selo: Registro Móvil Discográfica
Gênero: Indie Rock, Art Rock
Para quem gosta de: Asia Menor e Hesse Kassel
Ouça: Domingo de Ramos, Cáliz e Prisión de Carne
Segundo álbum de estúdio do coletivo chileno Candelabro, Deseo, Carne y Voluntad (2025, Registro Móvil Discográfica) escancara as potencialidades do grupo de Santiago. Sequência ao material apresentado pela banda em Ahora o Nunca (2023), o trabalho usa da imagética religiosa como amarra conceitual para um repertório que discute identidade nacional, fragilidade, opressão e o atual cenário político e social do Chile.
Encabeçado por Matías Ávila, o grupo, que se completa com os músicos Javiera Donoso, Franco Arriagada, Nahuel Alavia, Luis Ayala, Carlos Muñoz e María Lobos, se aprofunda na elaboração de faixas que existem pelo tempo necessário para articular suas ideias. São canções que vão de um a nove minutos de duração, sempre atravessadas por um vasto aparato instrumental incorporado pelos diferentes membros da banda.
Ainda que seja fácil pensar em uma abordagem que evoca Black Country, New Road, Black Midi e outros nomes da movimentada Windmill scene, o que Ávila e seus parceiros de banda propõem com o trabalho é profundamente autoral, denso e independente de referências externas. A própria inserção de trechos de poemas de Armando Uribe, Gabriela Mistral, Vicente Huidobro e Elvira Hernández reforça a ideia de um registro eminentemente chileno e politicamente situado, destacando o olhar atento de seus realizadores.
Exemplo disso fica bastante evidente em Pecado, composição que transforma a Estación Central, um dos símbolos do abandono social no Chile, em metáfora para o inferno urbano, articulando crítica política e desespero espiritual em um ska-punk catártico. A própria Domingo de Ramos, logo na abertura do disco, funciona como um chamado a romper cercas físicas e simbólicas em um intenso ato de libertação coletiva.
Mesmo quando desacelera e investe em uma abordagem contemplativa, o grupo mantém firme o caráter contestador. Em Prisión de Carne, por exemplo, com vozes assumidas por Donoso, são versos que alternam entre o existencialismo e a opressiva tentativa de controle sobre os corpos femininos. Já na extensa Cáliz, com instrumentação impecável, um confronto direto com Deus e com a própria fragilidade, onde o corpo se converte em oferenda, templo e única certeza possível em meio aos desafios impostos pelo caos cotidiano.
Tamanha profundidade faz de Deseo, Carne y Voluntad um repertório que exige tempo até ser inteiramente absorvido, entretanto gratifica o ouvinte na mesma intensidade. Ainda que nem todas as canções pareçam fundamentais para o desenvolvimento do disco, como Haz de mí e 3 Flores Blancas, o grupo reafirma sua visão com tamanha convicção que cada desvio soa menos como fragilidade e mais como parte de um gesto artístico inegociável. Um ato de resistência que transforma desejo, carne e vontade em pura insurgência.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.