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Ano: 2021

Selo: JO!NT / MangoMusik

Gênero: Eletrônica, Experimental, Garage

Para quem gosta de: Badsista e Four Tet

Ouça: Planeta-Espelho, ULT e Put It Down

8.6
8.6

Carlos do Complexo: “Torus”

Ano: 2021

Selo: JO!NT / MangoMusik

Gênero: Eletrônica, Experimental, Garage

Para quem gosta de: Badsista e Four Tet

Ouça: Planeta-Espelho, ULT e Put It Down

/ Por: Cleber Facchi 13/12/2021

Mesmo entregue em um período bastante ingrato, quando listas de melhores de ano são despejadas aos montes e indicam o fechamento de mais um ano para o mundo da música, Torus (2021, MangoMusik / JO!NT) é uma obra que merece atenção e exige uma escuta minuciosa por parte ouvinte. Mais recente criação de Carlos do Complexo, produtor que já havia colaborado com nomes como Kafé e Sango, além de assinar remixes para artistas como Tuyo e Silva, o trabalho de dez faixas convida o espectador a se perder em um labirinto de sons e sensações onde cada batida serve de passagem para um novo território criativo.

E esse esmero no processo de construção do trabalho fica bastante evidente durante toda a primeira porção do registro. Salve exceções, caso de Möbius, colaboração com Yan Higa, tudo gira em torno da produção e criativa sobreposição de ideias do artista que cresceu no Complexo do Engenho da Rainha, no Rio de Janeiro. São batidas e atravessamentos rítmicos que mudam de direção a todo instante, rompendo com qualquer traço de linearidade. Mesmo a autointitulado música de abertura, livre da euforia que orienta o restante da obra, encanta pelos detalhes, ruídos sintéticos e incontáveis camadas de texturas.

Nada que se compare ao material entregue na sequência composta por PHi e Planeta-Espelho. São pouco mais de sete minutos em que o produtor aponta para as pistas, porém, partindo de uma base totalmente imprevisível, torta. Do uso fragmentado das vozes ao tratamento dado aos sintetizadores, cada elemento parece pensado para brincar com a interpretação do público, proposta que preserva a essência do trabalho anterior do artista, Shani (2020), mas que acaba esbarrando no mesmo universo criativo de estrangeiros como Four Tet, no ainda recente Sixteen Oceans (2020), e Floating Points, em Crush (2019).

Com a chegada de Put It Down, sexta faixa do disco, um precioso ponto de ruptura. Enquanto as batidas preservam a essência versátil do artista carioca, camadas de sintetizadores e fragmentos de vozes utilizam de uma abordagem parcialmente distinta. Completa pela participação de Lux Ferreira, Tomás Tróia e Ryahn, a canção que evoca nomes como Disclosure e MJ Cole reflete o lado mais acessível da obra. Nada que a descritiva ULT, encontro com SD9 e Lifee, minutos à frente, não de conta de perverter, como um regresso ao mesmo território desbravado pelo produtor durante o lançamento do registro anterior.

Passado o encontro com Menor do Engenho, em Fractal, Índigo mais uma vez reflete o experimentalismo que orienta as criações de Carlos do Complexo desde o material revelado no introdutório Pós-Oceano (2017). Partindo de uma base atmosférica, a faixa cresce na ritualística sobreposição das batidas que vai do terreiro às pistas em uma delirante combinação de elementos. Não por acaso, passada a apresentação do material, 蒸発 / Off-Life se encaminha para o fechamento do disco de maneira sensível. São melodias, vozes e ambientações sempre enevoadas, como uma propositada fuga do som incorporado no restante do álbum.

Vem justamente dessa capacidade do produtor em transitar por entre estilos de maneira equilibrada a real beleza do trabalho. Diferente do material entregue no disco anterior, em que parecia testar os próprios limites criativos, Carlos do Complexo sabe exatamente onde quer chegar com Torus. E isso se reflete não apenas no número reduzido de faixas e menor duração do registro, mas na forma como cada composição serve de passagem para a música seguinte. São canções que vão das pistas ao uso de ambientações etéreas de forma sempre consistente, como a passagem para um universo próprio do artista carioca.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.