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Crítica

Carly Rae Jepsen

: "The Loneliest Time"

Ano: 2022

Selo: 604 / School Boy / Interscope

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Muna e Caroline Polachek

Ouça: Talking to Yourself e Western Wind

7.3
7.3

Carly Rae Jepsen: “The Loneliest Time”

Ano: 2022

Selo: 604 / School Boy / Interscope

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Muna e Caroline Polachek

Ouça: Talking to Yourself e Western Wind

/ Por: Cleber Facchi 28/10/2022

Embora isolada, Carly Rae Jepsen se manteve bastante ativa durante todo o período pandêmico. Além de produzir uma música à distância, Me And The Boys In The Band, inspirada pelos parceiros de banda, a cantora e compositora canadense investiu em uma canção natalina, It’s Not Christmas Till Somebody Cries, e mergulhou em uma série de sessões via Zoom junto do colaborador de longa data, o músico Tavish Crowe. A própria artista, sempre prolífica, disse em entrevista ao The Guardian que já tinha material o suficiente para um novo registro de inéditas enquanto entregava o repertório de Dedicated Side B (2020).

Vem justamente desse movimentado processo de criação o estímulo para o material entregue em The Loneliest Time (2022, 604 / School Boy / Interscope). Sexto álbum de estúdio da artista que ganhou o mundo com o sucesso de Call Me Maybe e conquistou uma legião de ouvintes com o lançamento do cultuado Emotion (2015), o registro gravado em um intervalo de dois anos concentra o que há de melhor no som produzido por Jepsen. São composições totalmente descomplicadas, leves e inspiradas pelo pop da décadas de 1980, porém, consumidas pelo fino toque de melancolia que embala a construção dos versos.

Me desculpe se eu afasto sua bondade / Especialmente quando eu preciso que você fique / Eu sei que você odeia que eu ainda teste seu amor / Eu estou tentando não foder com isso“, canta logo nos minutos iniciais, em Surrender My Heart, composição que começa pequena, cresce aos poucos e contrasta a dor explícita nos versos com uma explosão de sintetizadores e melodias cantaroláveis. É como um acumulo natural do que existe mais característico na obra da cantora canadense. Instantes em que Jepsen traz de volta tudo aquilo que tem sido incorporado desde o amadurecimento artístico expresso em Emotion.

Dessa forma, Jepsen garante ao público uma obra talvez previsível e decepcionante quando notamos a transição e busca por novas possibilidades em Dedicated (2019), mas que parece difícil de ser ignorada. Salve momentos de maior calmaria, como em Joshua Tree e no pop retrô de So Nice, prevalece em The Loneliest Time a capacidade da artista em capturar a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição. São canções de essência radiofônica, estrutura que acaba se refletindo até os minutos finais, na própria faixa-título, colaboração com o conterrâneo Rufus Wainwright, confessa referência para a canadense.

Dentro desse espaço marcado pela construção de faixas que continuam a reverberar mesmo após o encerramento do disco, Jepsen aproveita para estreitar relações com novos e antigos colaboradores. É o caso de Rostam Batmanglij, com quem havia trabalhado em Warm Blood, mas que aqui assume duas das canções menos previsíveis do álbum, a atmosférica Western Wind e Go Find Yourself or Whatever. Outra que chama a atenção é Talking To Yourself, música que bebe das mesmas referências de Emotion, porém, destaca os instrumentos e produção do trio Captain Cuts, parceiros desde a pegajosa Party For One.

Embora sustente nos próprios sentimentos e doce melancolia dos versos um precioso componente de aproximação entre as faixas, esse excessivo número de produtores mais prejudica do que contribui para o desenvolvimento de The Loneliest Time. Falta ao álbum a mesma consistência expressa nos registros anteriores, tratamento reforçado na escolha dos timbres e enquadramentos específicos, como o diálogo com o pop dos anos 1970 em Dedicated. Dessa forma, a cantora entrega uma obra que invariavelmente convence o ouvinte, mas que parece incapaz de causar a mesma fascinação dos discos que a antecedem.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.