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Crítica

Cate Le Bon

: "Pompeii"

Ano: 2022

Selo: Mexican Summer

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Julia Holter e U.S. Girls

Ouça: Moderation, Pompeii e Running Away

8.3
8.3

Cate Le Bon: “Pompeii”

Ano: 2022

Selo: Mexican Summer

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Julia Holter e U.S. Girls

Ouça: Moderation, Pompeii e Running Away

/ Por: Cleber Facchi 14/02/2022

Mesmo de um jeito torto, Cate Le Bon conquistou um espaço que parece pertencer somente à ela. E isso se reflete não apenas nos trabalhos apresentados pela cantora e compositora galesa em carreira solo, mas na forma como a musicista tem influenciado outros artistas, entre eles, o Deerhunter, em Why Hasn’t Everything Already Disappeared? (2019), obra em que atua como produtora, e até arrancado elogios de veteranos como John Cale, com quem já dividiu os palcos, e Jeff Tweedy. “Cate Le Bon é uma das melhores fazendo música atualmente“, comentou o vocalista do Wilco ao recomendar o disco Mug Museum (2013).

Essa força criativa e estranha interpretação da artista sobre a realidade fica ainda mais evidente nas canções de Pompeii (2022, Mexican Summer). Sequência ao material entregue em Reward (2019), importante capítulo na carreira da cantora, o novo álbum potencializa a capacidade da musicista em transportar o ouvinte para dentro de um território conceitualmente estranho, porém, inescapável. São faixas que remontam a música pop de forma sempre particular, estrutura que vai do uso fragmentado dos arranjos ao acabamento enigmático das vozes e versos que parecem dar voltas na cabeça do ouvinte.

A principal diferença em relação aos últimos trabalhos da cantora, como Crab Day (2016) e Reward, também regidos pelo mesmo direcionamento estético, está na forma como a musicista investe na produção de um repertório ainda mais sensível e detalhista. São incontáveis camadas de sintetizadores, guitarras, batidas e sopros ocasionais que convidam o ouvinte a se perder e um labirinto de sensações. Exemplo disso fica bastante evidente na introdutória Dirt on the Bed, música que se completa pelo saxofone de Stephen Black (Gruff Rhys, Slow Club), apontando a direção criativa seguida no restante da obra.

É como se a artista resgatasse tudo aquilo que foi apresentado no disco anterior, porém, provando de novas possibilidades e estruturas pouco usuais dentro de estúdio. Perfeita representação desse resultado acontece em French Boys, música que utiliza do mesmo som atmosférico produzido na década de 1980, vide as criações de Talk Talk e The Blue Nile, mas que em nenhum momento rompe com o frescor que parece bastante característico de Tatsuro Yamashita, Ohtaki Eiichi e outros nomes de peso do city pop. Um precioso cruzamento de informações, quebras e costuras rítmicas que se reflete até a derradeira Wheel.

Interessante notar que mesmo pontuado por momentos de maior experimentação, Pompeii preserva a capacidade da artista em dialogar com uma parcela maior do público. São músicas como Remembering Me e Moderation, com suas letras sempre alimentadas por conflitos existenciais, que parecem pensadas para seduzir, mesmo que de maneira inexplicável, logo em uma primeira audição. Claro que muitas dessas estruturas foram previamente testadas pela cantora em outras composições, como em Daylight Matters e The Light, proposta que diminui a sensação de ineditismo, mas nunca o impacto causado pelo álbum.

De fato, Pompeii é um desses trabalhos que, quanto mais tempo passamos dentro dele, mais surpreendente ele acaba se revelando. É possível passar horas debruçado em cima de cada canção, como a labiríntica faixa-título, observando as minucias do som produzido pela artista galesa. São ambientações sublimes, distorções e efeitos que se moldam de forma a favorecer a construção dos versos e estranho território criativo que se revela ao público em pequenas doses. Composições que orbitam um universo bastante singular, como um produto natural da tentativa da artista em testar os próprios limites dentro de estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.