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Crítica

Cavalera Conspiracy

: "Morbid Visions"

Ano: 2023

Selo: Nuclear Blast

Gênero: Thrash Metal, Death Metal

Para quem gosta de: Sepultura e Soufly

Ouça: Troops Of Doom e War

8.0
8.0

Cavalera Conspiracy: “Morbid Visions”

Ano: 2023

Selo: Nuclear Blast

Gênero: Thrash Metal, Death Metal

Para quem gosta de: Sepultura e Soufly

Ouça: Troops Of Doom e War

/ Por: Cleber Facchi 17/08/2023

Quando voltamos os ouvidos para toda a sequência de registros produzidos pelo Sepultura em início de carreira, evidente são as limitações técnicas e inferioridade de Morbid Visions (1986) frente ao material apresentado em seus sucessores, como Schizophrenia (1987) e Beneath the Remains (1989), obra que marca um importante processo de transformação na carreira da banda belo-horizontina. Concebido em um intervalo de poucos dias, com o grupo testando os próprios instrumentos em estúdio e com o domínio parcial da língua inglesa, o trabalho soa muito mais como um esboço do que uma obra propriamente dita.

Não por acaso, os irmãos Max e Igor Cavalera decidiram revisitar cada uma das canções que integram o primeiro trabalho de estúdio da banda mineira, porém, agora sob a alcunha do colaborativo Cavalera Conspiracy. É como um diálogo da dupla com o próprio passado, mas que em nenhum momento se deixa consumir pela nostalgia barata dos elementos. De qualidade técnica incontestável, o registro de nove composições diz a que veio logo na introdutória faixa-título. Pouco mais de três minutos em que a bateria e guitarra comungam da mesma fluidez e imprevisibilidade, arremessando o ouvinte de um canto a outro.

Essa mesma urgência e força no processo de criação fica ainda mais evidente na composição seguinte, Mayhem, releitura que preenche o vazio da versão original com um conjunto de bases densas e batidas que se levantam como um bloco quase intransponível, destacando a brutalidade de Igor em estúdio. É como um aquecimento para o que se revela de forma ainda mais interessante em Troops Of Doom. Um dos primeiros sucessos do Sepultura, a faixa, que já havia sido regravada em Schizophrenia, reaparece agora de forma ainda mais potente, indo de uma abertura equilibrada para um fechamento totalmente catártico.

Nada que prepare o ouvinte para o material entregue na turbulenta War. Enquanto preserva a crueza explícita em na versão original, a nova interpretação, mais uma vez, evidencia a riqueza de detalhes e capacidade dos irmãos Cavalera em transitar por diferentes estilos em um intervalo de pouquíssimos segundos. Do uso ruidoso das guitarras ao caráter sombrio das vozes, tudo parece pensado para atrair e capturar a atenção do público, estrutura que ainda abre passagem para a faixa seguinte, a infernal Crucifixion, música que destaca o lirismo político e anti-religioso que marca os anos iniciais do Sepultura.

Com a chegada de Show Me The Wrath, o trabalho desacelera momentaneamente, porém, preserva a força da dupla em estúdio. Um pouco mais extensa que a versão apresentada em 1986, a canção reserva aos minutos finais a possibilidade dos irmãos Cavalera em brincar com os próprios instrumentos, levando o material para uma nova direção. É como um ensaio para o que se materializa em Funeral Rites, música que se revela em ondas, destacando não apenas as guitarras, como a voz monstruosa de Max. Uma delirante combinação de elementos, ruídos e vozes que culmina na crescente Empire Of The Damned, faixa que encerra a edição original de Morbid Visions, mas que aqui é ampliada, ganhando novas tonalidades.

Agora escolhida como composição de fechamento do trabalho, a inédita Burn The Dead segue a trilha do material entregue no decorrer de Morbid Visions, porém, mais uma vez evidencia o esforço da dupla em testar os próprios limites em estúdio. Em um movimento repentino, a bateira de Igor não apenas joga o ouvinte para dentro da canção, como avança com uma ferocidade poucas vezes antes vista na obra da dupla, servindo de estímulo para as guitarras de Max. Um som totalmente invasivo, forte, como se para além do simples resgate do próprio repertório, os irmãos Cavalera mais uma vez imprimissem sua marca.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.