Ano: 2025
Selo: Matraca Records
Gênero: Indie Rock
Para quem gosta de: Pelados e Besouro Mulher
Ouça: Dançando Sozinho, Cedo e Meu Caminho
Ano: 2025
Selo: Matraca Records
Gênero: Indie Rock
Para quem gosta de: Pelados e Besouro Mulher
Ouça: Dançando Sozinho, Cedo e Meu Caminho
Contrário ao indicado no próprio título, há muito para se ver (e ouvir) dentro do primeiro álbum de estúdio do grupo paulistano Celacanto, Não Tem Nada Pra Ver Aqui (2025, Matraca Records). Inaugurado pelo uso cíclico das vozes na autointitulada faixa de abertura, o registro destaca o esforço da banda formada pelos músicos Miguel Lian (voz e guitarra), Eduardo Barco (guitarra e sanfona), Matheus Costa (baixo) e Giovanni Lenti (bateria) em testar os próprios limites dentro de uma obra marcada pelo forte aspecto exploratório.
Dado esse primeiro passo dentro do disco, Quadros, vinda em sequência, confessa algumas das principais referências do quarteto. São acenos para a obra do Radiohead em In Rainbows (2007), ecos do pós-punk inglês e diálogos com o art rock nova-iorquino, mas que em nenhum momento excluem a intensa relação do grupo com a produção de Caetano Veloso e outros artistas brasileiros. A própria Dançando Sozinho, com suas batidas aceleradas, texturas e camadas de guitarras, sintetiza isso de maneira bastante eficiente.
Entretanto, é na chegada de É de Pano que o quarteto demonstra sua potência em estúdio. As influências e citações indiretas, como as guitarras que instantaneamente evocam Sonic Youth, estão ali, mas em nenhum momento ocultam a identidade criativa do grupo que encontra em temas existenciais a base para o próprio trabalho. “Todo dia a engrenagem continua não rodando / Não é de metal, ele é de pano”, contempla Lian.
Embora marcado pela sensação de desconforto em seus minutos iniciais, Não Tem Nada Pra Ver Aqui está repleto de faixas que destacam o lirismo acolhedor e romantismo não óbvio do quarteto. Exemplo disso fica bastante evidente com a chegada de Cedo. Com um pé no pop psicodélico, a criação de letra altamente cantarolável não apenas leva o disco para outras direções, como abre passagem para o lado mais sensível do trabalho. Mesmo Desamarrado, com ares de canção perdida de Tim Bernardes, parece reforçar isso.
Sobrevive justamente nessa capacidade do quarteto em transitar por diferentes estilos, a grande beleza do repertório montado para Não Tem Nada Pra Ver Aqui. Composições que vão de um canto a outro, sempre curiosas, porém consistentes, destacando a produção atenta de Luiz Martins, o Lauiz. A própria sequência formada por Vendo Demais e Meu Caminho torna isso ainda mais explícito. Enquanto a primeira destaca o experimentalismo do grupo, com a canção seguinte é a fragilidade emocional que toma conta dos versos.
São estruturas e temas talvez desconexos, porém instigantes, direcionamento que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais do trabalho, em Você fica velho, o mundo fica velho também. De andamento sereno e versos melancólicos, a canção arremata o disco como um lembrete de que crescimento e desgaste caminham lado a lado. Uma metáfora sutil, ainda que poderosa, como uma manifestação sobre a natureza do próprio som desenvolvido pela Celacanto: errante na superfície, mas profundamente consciente de si.
Ouça também:
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.