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Crítica

Charli XCX

: "Crash"

Ano: 2022

Selo: Asylum / Atlantic

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Rina Sawayama e SOPHIE

Ouça: New Shapes e Beg For You

8.0
8.0

Charli XCX: “Crash”

Ano: 2022

Selo: Asylum / Atlantic

Gênero: Pop

Para quem gosta de: Rina Sawayama e SOPHIE

Ouça: New Shapes e Beg For You

/ Por: Cleber Facchi 24/03/2022

Embora tenha assinado com uma grande gravadora no início da década passada, Charli XCX nunca perdeu a própria identidade. E isso se reflete em toda a sequência de obras apresentadas pela artista inglesa. Do pop torto que embala o introdutório True Romance (2013), passando pela formação do colaborativo Charli (2019), de onde vieram encontros com Sky Ferreira, Christine And The Queens e Troye Sivan, sobram momentos em que a cantora e compositora parecia testar os limites da música pop em estúdio, direcionamento que volta a se repetir no fino repertório de Crash (2022, Asylum / Atlantic).

Último registro da série de cinco obras acordadas em contrato com a gravadora, o sucessor de How I’m Feeling Now (2020), produzido durante o período de isolamento social, concentra o que há de melhor no trabalho da artista. Do momento em que tem início, na bem executada faixa-título, até alcançar a derradeira Twice, cada fragmento do disco encanta pela criativa sobreposição de ideias que vai do pop da década de 1980 ao experimentalismo que tem sido incorporado pela cantora desde o amadurecimento em Vroom Vroom (2016) e POP 2 (2017), de onde vieram preciosidades como a insana Track 10 e Out of My Head.

Vem justamente dessa permanente combinação de elementos, ritmos e referências o estímulo para algumas das principais faixas do disco. É o caso de Beg For You. Completa pela participação de Rina Sawayama, a música chama a atenção pela inusitada interpretação de Cry For You, sucesso da artista sueca Petra Marklund, a September, mas que em nenhum momento deixa de dialogar com o restante da obra. Esse mesmo olhar curioso para o passado acontece em Used to Know Me, canção em que adapta Show Me Love, da cantora norte-americana Robin S, reforçando a essência nostálgica que serve de sustento ao trabalho.

E isso fica ainda mais evidente em Good Ones. Primeira composição do disco a ser apresentada ao público, a faixa utiliza de uma base que emula o pop dos anos 1980 e 1990, porém, partindo de uma linguagem própria da artista inglesa. São vozes sempre carregadas de efeitos e momentos de sutil experimentação, proposta que ganha ainda mais destaque na colaborativa New Shapes. Completa pela participação de Caroline Polachek e Christine and The Queens, a canção preserva e perverte uma série de conceitos originalmente testados em POP 2, como o uso torto dos sintetizadores e tratamento dado às batidas.

São composições que costuram passado e presente de forma sempre detalhista, como um acumulo natural de tudo aquilo que Charli XCX tem produzido em mais de uma década de carreira. Não por acaso, nomes como Ariel Rechtshaid (HAIM, Vampire Weekend) e Justin Raisen (Yves Tumor, Miya Folick), com quem havia colaborado em True Romance, aparecem ao longo do registro. “Eu estava trabalhando com Raisen, e fizemos muita coisa juntos para o meu primeiro álbum. Então foi meio cíclico voltar com ele novamente nesse que é meu último disco do contrato com a Atlantic“, comentou no texto de apresentação do trabalho.

Dentro desse espaço marcado pelo permanente cruzamento de informações e encontros com nomes como Oneohtrix Point Never, George Daniel (The 1975) e A. G. Cook, Charli XCX garante ao público uma obra equilibrada. São canções como Baby e Good Ones que naturalmente apontam para as pistas, porém, sempre acompanhadas por momentos de maior vulnerabilidade, marca de composições como Every Rule. Composições que transitam por entre colaboradores, diferentes ritmos e possibilidades em um precioso exercício que não apenas resgata tudo aquilo que tem sido incorporado desde a estreia com True Romance, como abre passagem e faz aumentar a expectativa para os futuros lançamentos da cantora.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.