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Crítica

Chelsea Wolfe

: "She Reaches Out to She Reaches Out to She"

Ano: 2024

Selo: Loma Vista

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Emma Ruth Rundle e Zola Jesus

Ouça: Dusk e Whispers In The Echo Chamber

7.4
7.4

Chelsea Wolfe: “She Reaches Out to She Reaches Out to She”

Ano: 2024

Selo: Loma Vista

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Emma Ruth Rundle e Zola Jesus

Ouça: Dusk e Whispers In The Echo Chamber

/ Por: Cleber Facchi 19/02/2024

Nos últimos anos, os registros de Chelsea Wolfe deixaram de ser apenas sobre a cantora e compositora norte-americana e passaram a ser sobre as relações de trabalho geradas pela artista dentro de estúdio. Em Bloodmoon: I (2021), por exemplo, o encontro com os membros do Converge levou o som produzido pela musicista para um novo território criativo, ainda mais agressivo e denso, direcionamento que muda por completo com a apresentação do curioso She Reaches Out to She Reaches Out to She (2024, Loma Vista).

Com produção assinada por David Sitek, músico que fez carreira como integrante do TV On The Radio, mas que já colaborou com nomes como Yeah Yeah Yeahs e Beyoncé, o trabalho de dez faixas chama a atenção pelo esforço da cantora em provar de uma sonoridade cada vez mais acessível, por vezes íntima de uma estranha relação com a música pop. A própria Wolfe, ao ser questionada sobre que artistas a influenciaram durante o processo de desenvolvimento do material, citou nomes como Björk e Madonna como algumas de suas principais referências criativas, ampliando o próprio campo de atuação em estúdio.

Embora posicionada no encerramento do trabalho, Dusk funciona como uma boa representação desse resultado. Da maior limpidez dada aos vocais, passando pela construção das batidas que evocam nomes como Portishead e Massive Attack, poucas vezes antes o som produzido por Wolfe pareceu tão atrativo. Outra que partilha de uma abordagem bastante similar é Tunnel Lights, canção em que destaca a relação da artista com a produção eletrônica, indicando a interferência direta de Sitek no processo de composição.

Claro que esse esforço em provar de novas possibilidades jamais distancia Wolfe de faixas ainda íntimas do repertório entregue nos antecessores Hiss Spun (2017) e Birth of Violence (2019). Escolhida como canção de abertura do trabalho, Whispers In The Echo Chamber funciona como uma boa representação desse resultado. Em um intervalo de quatro minutos, cada mínimo elemento da composição parece revelado ao público em pequenas doses, destacando a forte dramaticidade e uso de temas ruidosos que explodem em momentos estratégicos do material, conceito também explícito na criação seguinte, House of Self-Undoing.

Vem justamente dessa indecisão da compositora em escolher que caminho seguir o principal problema envolvendo o repertório de She Reaches Out to She Reaches Out to She. São duas obras distintas dentro de um mesmo disco, conceito que incialmente funciona como um componente de tensão criativa, mas que acaba se perdendo à medida que o trabalho avança. É como se a cantora fosse incapaz de se libertar do próprio passado. Nada que pareça diminuir a beleza das canções e temáticas incorporadas por Wolfe.

Mesmo marcado pela indecisão da própria realizadora, She Reaches Out to She Reaches Out to She mais uma vez destaca o domínio técnico e sensibilidade da artista na construção das faixas. “Eu estive pensando em você, você me fodeu em meus sonhos / O ​​que eu tenho que fazer para curar você de mim?“, questiona em Everything Turns Blue, composição que evidencia a melancolia e forte vulnerabilidade explícita nos versos de Wolfe. São os mesmos velhos temas, porém, pontuados por momentos de sutil transformação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.