Image
Crítica

Christine and the Queens

: "Redcar Les Adorables Étoiles (Prologue)"

Ano: 2022

Selo: Because

Gênero: Pop, R&B, Synthpop

Para quem gosta de: Shura e Caroline Polachek

Ouça: La Chanson Du Chevalier e Je Te Vois Enfin

6.5
6.5

Christine and the Queens: “Redcar Les Adorables Étoiles (Prologue)”

Ano: 2022

Selo: Because

Gênero: Pop, R&B, Synthpop

Para quem gosta de: Shura e Caroline Polachek

Ouça: La Chanson Du Chevalier e Je Te Vois Enfin

/ Por: Cleber Facchi 23/11/2022

Próximo e ao mesmo tempo distante de outros nomes da música pop, inclinados ao uso de temáticas conceituais e fases criativas, Héloïse Letissier costuma interpretar diferentes personagens em estúdio. Enquanto o introdutório Chaleur Humaine (2014) revelou a identidade de Christine And The Queens, com o trabalho seguinte, Chris (2018), o cantor e compositor francês passou a se apresentar com o nome da figura que concede título à obra. Vem justamente desse esforço em incorporar novos papéis o estímulo para o curioso repertório apresentado em Redcar Les Adorables Étoiles (Prologue) (2022, Because).

Utilizando da imagem de um homem misterioso e sedutor, sempre trajando luvas vermelhas, Letissier busca inspiração em personagens que utilizaram da própria imagem e minucioso senso estético para seduzir e manipular a audiência. De Michael Jackson ao ilusionista francês Gérard Majax, inúmeras são as referências que surgem e desaparecem durante toda a execução do registro. Mais do que isso, o trabalho que tem produção assinada em parceria com nomes como Mike Dean e Ash Workman, com quem já havia colaborador anteriormente, se aprofunda em inquietações, traumas e na identidade do compositor francês.

Depois de perder a própria mãe e viver um período emocional bastante conturbado, estímulo para o repertório entregue no confessional La Vita Nuova (2020), Letissier se revelou como genderqueer, adotou pronomes masculinos e passou por um importante processo de transformação pessoal. E isso fica bastante evidente em cada mínimo fragmento poético de Redcar Les Adorables Étoiles. “É você, eu te reconheço / Por favor, prove a si mesmo, pegue a espada / Por favor, levante-a bem / Mostre-me sua força e seu destino“, detalha em La Chanson Du Chevalier, música que concentra parte desses tormentos vividos pelo artista.

A própria base instrumental do disco, lenta, densa e declaradamente inspirada pelas criações de nomes importantes da década de 1980, como Depeche Mode e Roxy Music, contribui ainda mais para esse resultado. Salve exceções, como Looking For Love, em que destaca a potência das batidas, tudo gira em torno de um repertório atmosférico, potencializando a construção dos versos detalhados por Letissier. Enquanto Chris parecia capturar a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição, Redcar Les Adorables Étoiles exige tempo, conceito reforçado em Combien de Temps, com oito minutos de duração.

Claro que esse processo imersivo não justifica tamanha similaridade entre as faixas. São canções que partem de uma base enevoada de sintetizadores, guitarras atmosféricas que evocam Serge Gainsbourg e batidas sempre calculadas, o que acaba comprometendo o ritmo da obra. Mesmo quando rompe com esse direcionamento criativo, como em Je Te Vois Enfin, tudo ecoa de forma exageradamente contida. Falta ao disco a mesma versatilidade e uso contrastante das informações, marca do som que vem sendo produzido por Letissier desde Chaleur Humaine e que ganhou novo tratamento no repertório apresentado em Chris.

É justamente essa sombra dos trabalhos anteriores que compromete parte do processo de imersão em Redcar Les Adorables Étoiles. Por mais interessante que seja a proposta criativa e o material revelado por Letissier ao longo da obra, tudo parece inferior quando próximo das composições detalhadas em Chaleur Humaine e Chris. O próprio fato de se tratar de um prólogo, resultando em um registro que só será finalizado no próximo ano, torna esse processo ainda mais confuso. Canções que apresentam boas ideias, porém, quando organizadas, resultam em um repertório consumido pela forte sensação de insuficiência.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.