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Crítica

Christopher Owens

: "I Wanna Run Barefoot Through Your Hair"

Ano: 2024

Selo: True Panther

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Girls e Destroyer

Ouça: No Good e I Think About Heaven

8.0
8.0

Christopher Owens: “I Wanna Run Barefoot Through Your Hair”

Ano: 2024

Selo: True Panther

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Girls e Destroyer

Ouça: No Good e I Think About Heaven

/ Por: Cleber Facchi 31/10/2024

Apesar da boa estreia em carreira solo com Lysandre (2013), Christopher Owens havia deixado um gosto amargo na boca dos ouvintes que foram impactados com os álbuns seguintes, A New Testament (2014) e Chrissybaby Forever (2015). Era como se o ex-membro da banda Girls tivesse perdido parte do refinamento técnico e sensibilidade poética explícita nos primeiros registros autorais, mergulhando em uma sequência de projetos pouco inspirados, enfadonhos e incapazes de criar qualquer forma de conexão com o público.

Não por acaso, o músico acabou se distanciando dos palcos, passou por um período de forte instabilidade financeira que o forçou a viver dentro de um carro e ainda ficou meses impossibilitado de se mexer após um grave acidente de moto. Quando se reuniu com o antigo parceiro de banda, Chet “JR” White, e começou a produzir um novo álbum de inéditas do Girls, foi surpreendido com a notícia do falecimento precoce do mesmo, quando o coração do multi-instrumentista e produtor de 40 anos parou de bater enquanto dormia.

Era como se o mundo desabasse sobre Owens. E isso fica ainda mais explícito quando nos deparamos com as canções de I Wanna Run Barefoot Through Your Hair (2024, True Panther). Primeiro trabalho do artista em carreira solo após um longo período de hiato, o material de dez faixas é tanto um aceno para os antigos registros do Girls, como um compilado das experiências vividas pelo músico nos últimos anos. Um doloroso e libertador ato criativo que evidencia toda a potência do cantor e compositor estadunidense em estúdio.

Não, não é outra canção de amor / Não é mais uma canção onde finjo / Que tudo vai ficar bem / Eu morri no dia em que você me deixou”, canta logo nos minutos iniciais do trabalho, na introdutória No Good. São canções marcadas pela visceralidade dos versos e capacidade do artista em dialogar com o ouvinte por meio das emoções. Instantes em que Owens reflete sobre a saudade do antigo parceiro de banda (I Think About Heaven) e a própria solidão (This Is My Guitar) em um delicado exercício de exposição sentimental.

Embora doloroso na maior parte do tempo, I Wanna Run Barefoot Through Your Hair em nenhum momento parece pesar sobre o ouvinte. Parte desse resultado vem não apenas da capacidade do artista em espalhar versos iluminados pela esperança ao longo do disco, como de transportar para dentro de estúdio a mesma essência litorânea dos antigos trabalhos do Girls. São guitarras radiantes e melodias cantaroláveis que se completam pela produção caprichadíssima de nomes como Doug Boehm, Ariel Rechtshaid e Jacob Portrait.

Desse modo, mesmo que Owens dependa do que foi conquistado com o Girls e pouco avance criativamente quando próximo dos antigos trabalhos em carreira solo, difícil não ceder aos encantos do norte-americano. Do momento em que tem início, na melancolia fina de No Good, até alcançar a épica Do You Need a Friend, em que usa trechos de It Must Have Been Love, do Roxette, cada mínimo fragmento do disco se transforma em um componente avassalador, evidenciando a força que move I Wanna Run Barefoot Through Your Hair.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.