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Crítica

Chromatics

: "Closer to Grey"

Ano: 2019

Selo: Italians Do It Better

Gênero: Dream Pop, Synthpop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Bat For Lashes e Lower Dens

Ouça: Twist The Knife e You're No Good

8.0
8.0

Chromatics: “Closer to Grey”

Ano: 2019

Selo: Italians Do It Better

Gênero: Dream Pop, Synthpop, Rock Alternativo

Para quem gosta de: Bat For Lashes e Lower Dens

Ouça: Twist The Knife e You're No Good

/ Por: Cleber Facchi 14/10/2019

Do ponto de vista estrutural de uma película de horror, conceito reforçado logo na imagem de capa do disco, Closer to Grey (2019, Italians Do It Better) é um trabalho perfeito. Do momento em que tem início, na inusitada releitura de The Sound of Silence, interpretação soturna e climática da obra de Simon & Garfunkel, como se saída de algum filme da franquia A Hora do Pesadelo, até alcançar o clímax, em Whispers In The Hall, canção que dialoga com a mesma base temática da trilha sonora de O Exorcista (1973), vide as criações de Mike Oldfield, cada elemento do quinto álbum de estúdio do Chromatics parece pensado para causar tensão ao ouvinte, cada vez mais atraído trama fantasmagórica que serve de sustento ao registro.

Partindo dessa estrutura cinematográfica, Johnny Jewel (produção, sintetizadores) e seus parceiros de banda, Ruth Radelet (voz, guitarras, sintetizadores), Adam Miller (guitarras) e Nat Walker (bateria, sintetizadores), utilizam do amor e da incerteza que move as relações humanas como o principal elemento de conflito e vilania do roteiro que rege o disco. “Quando cada dia parece ser o seu último / Poderíamos tentar jogar direito / Mas às vezes o amor parece ódio / Sempre que fecho os meus olhos / Você torce a faca“, canta em Twist the Knife, canção que sintetiza a completa vulnerabilidade dos versos e desgaste emocional que orienta o trabalho.

São canções mergulhadas em relacionamentos tóxicos, resultando em uma espiral aterrorizante que lentamente parece sufocar o ouvinte. “Lágrimas como cetim, sentidas antes / Vampiros sedentos, custando mais / E estamos todos sozinhos? / Eu sei que você não é bom, não / Mas não posso ficar longe de você“, confessa na dolorosa You’re No Good, indicativo claro da poesia amarga que serve de sustento à obra. Mesmo a escolha da banda em regravar a obscura On the Wall, música originalmente lançada pelo The Jesus and Mary Chain como parte do clássico Darklands (1987), funciona como um complemento à narrativa sentimental do trabalho. “Nade no mar, nade dentro de mim / Mas você não pode nadar muito longe“, canta em um reforço claro à fixação lírica que segue até a derradeira Wishing Well.

Dos poucos momentos em que perverte essa estrutura, como na delicada Move a Mountain, Radelet se permite cantar sobre o desejo por um novo amor (“Eu posso respirar novamente, agora que todos foram para casa /Já faz muito tempo desde que estou sozinha“), porém, sutilmente regressa ao conceito doentio que serve de sustento à obra (“Eu tentei mover uma montanha / Estou esperando que caia / Estou olhando pela janela / Esperando você ligar / Você não“). A própria faixa-título do disco, originalmente lançada há quatro anos, parece integralmente relacionada ao restante da obra, alternando entre instantes de breve clareza e o mais profundo delírio. “Você diz que o mundo está chovendo cores / Eu vejo você ficando cinza / Você diz que nunca beijará outra / Eu vejo você correndo para longe“, desaba.

Mesmo a base instrumental do disco se projeta de forma a contribuir para esse momento de forte instabilidade emocional dos versos. Exemplo disso está na sequência formada por Twist The Knife e Light as a Feather. São pouco mais de sete minutos em que o quarteto de Portland, Oregon, parece jogar com a experiência do ouvinte, alternando entre instantes de doce melancolia e fúria. São ambientações atmosféricas que encolhem e crescem a todo instante, estímulo para a inserção de batidas destacadas, guitarras pontuais e a voz quase instrumental de Radelet, como um complemento direto à produção detalhista que há tempos vem sendo refinada por Jewel.

Lançado de surpresa, ocupando a lacuna do mitológico Dear Tommy, Closer to Grey segue exatamente de onde o grupo norte-americano parou há sete anos, durante a produção de Kill For Love (2012). São melodias e reverberações nostálgicas, deliciosamente inspiradas pelo pop empoeirado da década de 1980 e o experimentalismo atmosférico de clássicos da década de 1970, vide a obra de veteranos como Popol Vuh e Cluster. A diferença está na forma como Jewel e seus parceiros de banda tentam dar novo significado ao próprio trabalho, estrutura que se reflete no flerte breve com o R&B, como em You’re No Good, e, principalmente, no uso de conflitos amorosos como o estímulo para o delirante alicerce poético que movimenta o disco até o último segundo.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.