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Crítica

Chuquimamani-Condori / Joshua Chuquimia Crampton

: "Los Thuthanaka"

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Nicolas Jaar e James Ferraro

Ouça: Salay “Titi Ch’iri Siqititi” e Huayño “Ipi Saxra”

9.0
9.0

Chuquimamani-Condori & Joshua Chuquimia Crampton: “Los Thuthanaka”

Ano: 2025

Selo: Independente

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Nicolas Jaar e James Ferraro

Ouça: Salay “Titi Ch’iri Siqititi” e Huayño “Ipi Saxra”

/ Por: Cleber Facchi 04/04/2025

Desde que Elysia Crampton adotou a identidade de Chuquimamani-Condori, cada novo registro entregue pela artista norte-americana parece pensado para tensionar a experiência do ouvinte. Ainda que traços de música andina e outros componentes percussivos apontem para a produção latina, o que se percebe é uma insana combinação de ideias, diferentes ritmos e quebras que pervertem todo e qualquer traço de conforto.

Exemplo disso fica mais evidente quando nos deparamos com as canções do colaborativo Los Thuthanaka (2025, Independente). Produto da parceria entre a artista e o próprio irmão, Joshua Chuquimia Crampton, o registro de oito faixas segue de onde Elysia parou há dois anos, durante o desenvolvimento do também experimental DJ E (2023), porém, partindo de um acabamento criativo ainda mais complexo e desafiador.

Enquanto Elysia se concentra na elaboração dos samples e colagens que evidenciam o caráter exploratório da produtora californiana, Joshua brinca com a fragmentação das guitarras. São acordes que acenam para a música boliviana, peruana e mexicana, porém, sempre embebidos em camadas de distorção. É como se cada nova canção do trabalho servisse de passagem para um território próprio da dupla norte-americana.

Embora parta de uma abordagem essencialmente torta, conceito reforçado logo na canção de abertura do disco, Q’iwanakax-Q’iwsanakax Utjxiwa, Los Thuthanaka tem seus momentos menos complexos. Escolhida para o encerramento do registro, Salay “Titi Ch’iri Siqititi” talvez seja o melhor exemplo disso. Da fluidez das batidas ao uso suingado das guitarras, poucas vezes antes os irmãos Crampton pareceram tão acessíveis.

Entretanto, a real beleza do disco está em justamente em se deixar conduzir pelos experimentos lançados pela dupla norte-americana. Em Kullawada “Awila”, por exemplo, são teclados e timbres caricatos, mas que aos poucos se deixam consumir pelo som ruidoso dos irmãos Crampton. Já em Parrandita “Sariri Tunupa”, vinda logo em sequência, são ambientações, efeitos e texturas que levam o material para outras direções.

Claro que isso não exime a dupla de algumas repetições estilísticas. Como indicado logo na composição de abertura, os irmãos Crampton se concentram na elaboração de músicas concebidas em camadas, proposta que tende a se repetir ao longo do trabalho e consumir a experiência do ouvinte. Entretanto, mesmo nessas pequenas repetições, há sempre um componente de ruptura que não apenas corrompe os rumos da obra, como reforça a identidade provocativa e transgressora que há tempos orienta as criações dos dois artistas.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.