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Crítica

Claire George

: "The Land Beyond The Light"

Ano: 2021

Selo: Cascine

Gênero: Art Pop, Dream Pop, Synthpop

Para quem gosta de: Yumi Zouma, CHVRCHES e Austra

Ouça: Northern Lights e Pink Elephant

7.5
7.5

Claire George: “The Land Beyond The Light”

Ano: 2021

Selo: Cascine

Gênero: Art Pop, Dream Pop, Synthpop

Para quem gosta de: Yumi Zouma, CHVRCHES e Austra

Ouça: Northern Lights e Pink Elephant

/ Por: Cleber Facchi 16/06/2021

Como indicado logo na imagem de capa, trabalho que conta com assinatura da fotógrafa Linda Westin, The Land Beyond The Light (2021, Cascine) serve de passagem para as emoções mais profundas de Claire George. São histórias de amor, romances fracassados e momentos de maior desilusão, proposta que tem sido explorado pela artista residente em Los Angeles, Califórnia, ao longo de toda a última década, vide o fino repertório apresentado nas canções de Bodies of Water EP (2018), mas que ganha novo e delicado acabamento nas criações do presente disco. “Você sentiu como uma faca ou estava muito entorpecido por dentro?“, questiona na introdutória You Don’t Feel the Same, composição em que parece apontar a direção seguida até a derradeira Particles in Motion.

Obra de sentimentos, como tudo aquilo que a cantora tem produzido desde os primeiros registros autorais, o álbum de nove faixas parte de emoções e vivências reais como um importante componente de diálogo com o ouvinte. São experiências sempre dilacerantes e intimistas, como um acumulo natural de tudo aquilo que a artista tem vivido nos últimos anos. Parte desse direcionamento criativo vem justamente da forma como George lida com o processo de composição. Influenciada desde cedo pela obra de Fiona Apple, a musicista não economiza na própria exposição, revelando ao público um repertório marcado em essência pela vulnerabilidade dos temas, dor e profunda entrega, estrutura que se manifesta de maneira expressiva mesmo nos momentos mais sutis do trabalho.

Exemplo disso acontece em Pink Elephants. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, a canção parte de uma base reducionista de sintetizadores e batidas eletrônicas, porém, estabelece na construção da letra uma importante manifestação do completo domínio e força de George durante toda a execução da obra. “Bem, eu não te culpo, eu sei como é a sensação / Com presas e dentes roendo seus calcanhares / Você está tão envolvido que te puxa para baixo / Eu faria qualquer coisa para te tirar dali“, canta a artista que ainda completa: “Eu mastigaria armadilhas para você“. São versos em que discute relacionamentos tóxicos, depressão e dependência sentimental de forma essencialmente honesta, como uma interpretação dos próprios conflitos.

E esse mesmo direcionamento temático acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra. São canções como Nosebleed Seats (“Eu vou te amar muito, mesmo depois que a luz sair da sala“) e I Promise (“Você acha que perdeu seu caminho, a cabeça se enche de dúvidas“) em que George transporta para dentro de estúdio tudo aquilo que invade a própria mente. Nada que se compare ao material entregue na dolorosa Northern Lights, música consumida pelo peso da memória e saudade da compositora. “Nas memórias passando pela minha mente / Você está piscando como as Luzes do Norte / Eu daria tudo para voltar no tempo / Comece de novo antes da minha vida / Sem você“, desaba. Fragmento sentimentais e poéticos que potencializam as angústias da artista.

Muito desse resultado vem da própria base instrumental incorporada ao disco. Longe de possíveis exageros, George investe na produção de um material reducionista, como se pensado para alavancar as vozes e versos detalhados dentro de cada canção. A diferença em relação a outros nomes do gênero, como Austra e CHVRCHES, em que existe uma maior valorização dos sintetizadores, está na forma como a artista californiana se concentra em essência no uso das batidas. São construções minimalistas, sempre precisas, proposta que naturalmente aponta para a cena inglesa, lembrando nomes como Fred Again.. e Jamie XX, porém, preservando a identidade criativa e profunda sensibilidade que orienta as criações da cantora até o último segundo do trabalho.

Vem justamente desse maior refinamento dado às batidas um importante componente de sustento para o trabalho. Por se tratar de uma obra monotemática, centrada em excesso nos sentimentos e romances fracassados de George, que a manipulação rítmica distancia o ouvinte de um resultado potencialmente arrastado. Canções que preservam a essência melancólica da artista, mas que a todo momento apontam para direções diferentes. O resultado desse processo está na entrega de um álbum essencialmente dinâmico e equilibrado, mesmo nos momentos de maior instabilidades. Um exercício que parte das relações e angústias vividas pela cantora, porém, sustenta na universalidade dos temas e evidente esmero no processo rítmico um precioso componente criativo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.