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Crítica

Colin Stetson

: "Chimæra I"

Ano: 2022

Selo: Room40

Gênero: Experimental, Jazz, Drone

Para quem gosta de: Tim Hecker e The Haxan Cloak

Ouça: Orthrus e Cerberus

7.6
7.6

Colin Stetson: “Chimæra I”

Ano: 2022

Selo: Room40

Gênero: Experimental, Jazz, Drone

Para quem gosta de: Tim Hecker e The Haxan Cloak

Ouça: Orthrus e Cerberus

/ Por: Cleber Facchi 20/01/2023

Muito antes de ser descoberto pela indústria do cinema e convidado a produzir algumas das trilhas mais aterrorizantes dos últimos anos, vide o brilhante trabalho em Hereditário (2018) e na recente refilmagem de O Massacre da Serra Elétrica (2022), Colin Stetson revelou uma sequência de obras marcadas pela atmosfera soturna e capacidade de tensionar a experiência do ouvinte. São registros como o provocativo New History Warfare Vol. 2: Judges (2011) e Sorrow – A Reimagining of Gorecki’s 3rd Symphony (2016), que destacam o domínio técnico e permanente sensação de sufocamento proposta pelo músico canadense.

Mais recente criação de Stetson, Chimæra I (2022, Room40) funciona como uma boa representação de tudo aquilo que o artista busca desenvolver em estúdio. Próximo e ao mesmo tempo distante do material entregue anteriormente pelo compositor, o trabalho chama a atenção pelo repertório reduzido. São duas composições extensas que ganham forma e crescem em uma medida própria de tempo. Um exercício criativo que naturalmente tende ao drone, vide a base acinzentada que cresce ao fundo da cada canção, porém, entrecortada pelo saxofone intrusivo que assume diferentes formatações ao longo do registro.

E isso fica bem representado na introdutória Orthrus. Com título inspirado pelo cão bicéfalo da mitologia grega, a canção de mais de vinte minutos se divide em duas porções bastante características. A primeira, que abrange os dez minutos iniciais da obra, funciona como um preparativo para tudo aquilo que Stetson busca desenvolver ao longo do trabalho. São ambientações contidas, porém, pontuadas pelo uso de sopros abafados e estalos metálicos que aumentam a tensão que parece consumir o registro. Instantes em que o saxofonista mais oculta do que necessariamente revela informações ao ouvinte, preparando o território.

Não por acaso, passado um momento de maior serenidade, como um respiro, Stetson regressa de forma ainda mais intensa na metade seguinte da composição. Enquanto a base se projeta de forma crescente, cercando e sufocando o ouvinte, ruídos e sopros metalizados, sempre carregados de efeitos, surgem ocasionalmente, lembrando o canto de uma criatura monstruosa. É como se o saxofonista transportasse para dentro de estúdio a mesma ambientação tensa das últimas empreitadas cinematográficas, porém, partindo de uma abordagem imprevisível, vide os atravessamentos que surgem ao longo da canção.

Para a composição seguinte, Cerberus, cujo nome é inspirado pelo cão mitológico que guarda a entrada do inferno, Stetson utiliza de uma abordagem bastante similar, talvez previsível, porém, pontuada por momentos de sutil transformação. Fatiada em três movimentos, a faixa parte de uma base estridente e contínua para então mergulhar em um oceano de calmaria. Nada que pareça diminuir a presença do instrumentista, vide o canto solitário e sempre destacado do saxofone que surge em momentos pontuais da canção. Um preparativo torto para o direcionamento grandioso que ocupa a porção final do trabalho.

Enquanto a base da canção se projeta de forma ascendente, lembrando o zumbido gerado por um violento enxame de abelhas, ruídos e perturbações ocasionais bagunçam a experiência do ouvinte. É como uma soma não apenas de tudo aquilo que Stetson busca desenvolver desde os minutos iniciais do trabalho, mas um agregado torto da própria discografia. Mesmo nos momentos em que utiliza de uma abordagem contida, silenciando brevemente, há sempre um componente de ruptura e propositado desconforto, tratamento que assume diferentes formatações e tinge com incerteza o processo de audição do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.