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Crítica

Colin Stetson

: "The Love It Took To Leave You"

Ano: 2024

Selo: Invada

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Tim Hecker e William Basinski

Ouça: The Six, Malediction e Strike Your Forge And Grin

8.0
8.0

Colin Stetson: “The Love It Took To Leave You”

Ano: 2024

Selo: Invada

Gênero: Experimental

Para quem gosta de: Tim Hecker e William Basinski

Ouça: The Six, Malediction e Strike Your Forge And Grin

/ Por: Cleber Facchi 29/10/2024

Ainda que The Love It Took To Leave You (2024, Invada) seja oficialmente o primeiro disco de Colin Stetson em sete anos, o compositor e saxofonista estadunidense se manteve bastante produtivo desde que deu vida ao antecessor All This I Do For Glory (2017). Do envolvimento na trilha sonora de filmes como Hereditário (2018) e O Menu (2022), passando por obras colaborativas, como When We Were That What Wept For The Sea (2023), sobram momentos que destacam a força criativa do músico original de Ann Arbor, Michigan.

Entretanto, é quando nos deparamos com o repertório do presente álbum que percebemos a real grandeza do trabalho de Stetson. Livre de possíveis freios criativos, o saxofonista avança sobre o ouvinte, despejando sopros enfurecidos que soam como o rugido de um animal feroz na noite escura. O próprio movimento das teclas, sempre amplificadas em estúdio, se projeta de maneira totalmente ritmada, gerando uma sensação de avanço constante, como se acompanhássemos a montagem do registro na nossa frente, em tempo real.

Segunda composição do disco, The Six talvez seja o melhor exemplo disso. Do momento em que tem início, com um som que ecoa como um corpo arremessado contra o chão de concreto, passando pelos sopros que se transformam em sirenes e criaturas animalescas, cada fragmento da canção parece catapultar o ouvinte de um canto a outro sem qualquer piedade. Pouco mais de seis minutos em que Stetson se ergue de forma furiosa e apresenta parte dos conceitos que serão explorados ao longo de The Love It Took To Leave You.

A partir desse ponto, rompendo com a parcial calmaria da autointitulada canção de abertura, cada música conduz o trabalho para um direção diferente da outra. Em Hollowing, são os movimentos das teclas que se transformam em um precioso componente rítmico, ainda que altamente disforme. Já em To Think We Knew From Fear, são arranjos que chegam em ondas, criando uma permanente sensação de opressão. Surgem ainda criações como Ember que, embora moderadas, convertem o saxofone de Stetson em um canto triste.

Nada que prepare o ouvinte para o que se revela em Strike Your Forge And Grin. Com mais de 20 minutos de duração, a faixa pode até ocupar os momentos iniciais com uma abordagem contemplativa, espalhando notas alongadas que tendem ao drone, mas que aos poucos se deixam invadir pela inusitada inserção das batidas que aproximam Stetson do techno. Essa mesma riqueza de detalhes, porém de maneira comedida, volta a se repetir em Malediction, canção que assume diferentes percursos em seus mais de nove minutos.

Moderado quando exige ser e provocativo na maior parte do tempo, The Love It Took To Leave You mostra Stetson em sua melhor forma. Próximo e, ao mesmo tempo, distante de tudo aquilo que o saxofonista havia testado nos últimos anos, vide obras como Chimæra I (2022), o registro segue a trilha dos trabalhos que o antecedem, porém, estabelece na evidente ferocidade do artista um claro componente de renovação. São canções que exploram um percurso sombrio, jogando com a imprevisibilidade a cada novo movimento.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.