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Crítica

Colin Stetson

: "When We Were That What Wept For The Sea"

Ano: 2023

Selo: 52Hz

Gênero: Experimental, Drone

Para quem gosta de: Tim Hecker e William Basinski

Ouça: Long Before the Sky Would Open

7.7
7.7

Colin Stetson: “When We Were That What Wept For The Sea”

Ano: 2023

Selo: 52Hz

Gênero: Experimental, Drone

Para quem gosta de: Tim Hecker e William Basinski

Ouça: Long Before the Sky Would Open

/ Por: Cleber Facchi 20/06/2023

Por trás da colorida imagem de capa de When We Were That What Wept For The Sea (2023, 52Hz), novo álbum de Colin Stetson, se esconde um dos registros mais sombrios já produzidos pelo saxofonista canadense. Sequência ao material entregue no ainda recente Chimæra I (2022), o trabalho nasce como uma resposta ao recente falecimento do pai do compositor. “Às vezes acontecem coisas na vida que não planejamos. Então parei tudo e escrevi esse disco“, revelou em entrevista ao site The Quietus, reforçando o fino toque de melancolia que orienta a experiência do ouvinte durante toda a execução do repertório.

Embora parta de um contexto essencialmente doloroso, o registro de mais de 70 minutos de duração em nenhum momento pesa sobre o ouvinte. Diferente de outros trabalhos produzidos pelo músico, como a soturna trilha sonora de Hereditário (2018), When We Were That What Wept For The Sea é um disco marcado pelo sentimento de ascensão. Exemplo disso fica bastante evidente em toda a sequência de faixas intituladas The Lighthouse, mas principalmente no segundo movimento, quando em comunhão com a gaita escocesa da musicista Brighde Chaimbeul, Stetson alcança um resultado próximo do transcendental.

Mesmo quando passeia solitário pelo interior do álbum, Stetson utiliza de uma abordagem bem diferente dos antigos trabalhos. Em One Day In the Sun, por exemplo, enquanto utiliza do movimento das teclas como um componente rítmico, o sopro do saxofone emula um canto acolhedor. A mesma fluidez, porém, partindo de uma estrutura reformulada, pode ser percebida em Behind the Sky, música que alterna entre a raiva e a libertação. São sobreposições contrastantes que não apenas garantem movimento ao disco, como parecem representar parte das experiências e sentimentos vividos pelo compositor durante o processo de luto.

Observado atentamente, When We Were That What Wept For The Sea se projeta como uma verdadeira jornada emocional. Salve excessões, como a labiríntica faixa-título, toda a porção inicial do registro se projeta a partir de bases minimalistas e ambientações que mais ocultam do que necessariamente revelam informações. Contudo, à medida que o trabalho avança e a relação de Stetson com os próprios sentimentos parece melhor resolvida, o disco ganha novo significado. Da colaboração com diferentes instrumentistas ao tratamento dado aos arranjos, cada mínimo componente criativo parece ampliar os limites do material.

O resultado desse processo está na entrega de músicas talvez inesperadas quando voltamos os ouvidos para os primeiros registros do saxofonista. É o caso de The Lighthouse V, faixa que parte de um texto interpretado Iarla O’Lionaird, abre passagem para a inserção dos sintetizadores e sustenta na leveza dos arranjos um dos momentos de maior comoção do disco. De fato, poucas vezes antes o músico pareceu tão íntimo do ouvinte. Na contramão de obras como Sorrow – A Reimagining of Gorecki’s 3rd Symphony (2016) e All This I Do For Glory (2017), Stetson faz do presente trabalho um verdadeiro espaço de acolhimento.

Passagem para uma nova fase na carreira do saxofonista, When We Were That What Wept For The Sea rompe com a atmosfera claustrofóbica dos primeiros trabalhos, aproxima Stetson de novos parceiros e trilha caminhos pouco usuais, porém, se estende para além do necessário. Diferente do registro anterior, em que se concentrou na execução de apenas duas faixas, o artista agora peca pelo excesso, vide o volume de canções, muitas delas bastante similares, na porção inicial da obra. É como um bloqueio que separa o ouvinte da sequência final, onde o músico reserva algumas de suas melhores e mais sensíveis criações, fazendo da relação com a morte o estímulo para um repertório que provoca e acolhe na mesma proporção.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.