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Crítica

Jens Lekman / Annika Norlin

: "Correspondence"

Ano: 2019

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie, Folk, Indie Folk

Para quem gosta de: Kings of Convenience e Feist

Ouça: Not Because It's Easy, But Because It's Hard

7.5
7.5

“Correspondence”, Jens Lekman & Annika Norlin

Ano: 2019

Selo: Secretly Canadian

Gênero: Indie, Folk, Indie Folk

Para quem gosta de: Kings of Convenience e Feist

Ouça: Not Because It's Easy, But Because It's Hard

/ Por: Cleber Facchi 01/05/2019

Mesmo em um universo sufocado pela urgência na composição de cada novo registro autoral, Jens Lekman e Annika Norlin parecem seguir em uma medida própria de tempo. Para a produção do delicado Correspondence (2019, Secretly Canadian), primeiro álbum de estúdio assinado em parceria pela dupla, os veteranos da cena sueca mergulharam em um lento processo de refinamento estético que levou mais de um ano até ser finalizado. Mensalmente, cada realizador compartilhou uma canção inédita, forçando o parceiro de composição a se debruçar na finalização dos arranjos, melodias e vozes.

O resulta desse lento processo de comprometimento artístico se reflete na forma como as canções do álbum são delicadamente reveladas ao público. Do momento em que tem início, em Who Really Needs Who, música que detalha nos versos o processo de composição da obra, perceba como cada elemento ganha forma e cresce em pequenas doses. São versos descritivos que se espalham em meio a temas instrumentais sempre precisos. Uma base acústica, tímida, mas que vez ou outra se abre para a inserção de arranjos de cordas e percussão econômica.

Exemplo disso está na montagem de Joining a Cult, sexta composição do disco. “Dentro desse meu cérebro racional / Eu desejo ser contradita, espero por um sinal / Não importa o culto, ou sinal / Apenas me dê algum sinal“, canta em meio a guitarras cristalinas, palmas e uma delicada reflexão sobre a busca pela fé a partir do documentário Wild Wild Country, da Netflix. É como se Norlin, dona da voz na canção, resgatasse parte da atmosfera dos antigos trabalhos com o Hello Saferide, grupo do qual faz parte, porém, partindo de poemas conceitualmente amplos, como diálogos com diferentes campos culturais.

É justamente essa versatilidade na composição dos versos que garante ao encontro entre Lekman e Norlin um evidente elemento de destaque. Do simples passeio em uma loja de cosméticos que se transforma em uma delicada reflexão sobre o abandono do eu lírico (Cosmetics Store), passando pela visita ao centro da cidade em um dia de eleição (Election Day), cenas simples do cotidiano se transformam no principal componente para o fortalecimento da obra. É como se a dupla compartilhasse suas experiências em uma doce narrativa intimista, estrutura que dialoga diretamente com o título do trabalho.

Embora siga uma linha conceitual bastante específica, mergulhando em cenas e acontecimentos íntimos apenas de seus realizadores, importante notar que Correspondence em nenhum momento soa como uma obra inacessível, hermética. Exemplo disso está em Forever Young, Forever Beautiful, música que parte de um acontecimento mundano para discutir a força do amor através do tempo. Em Not Because It’s Easy, But Because It’s Hard, uma dolorosa reflexão sobre a morte a partir de elementos reais, entre eles, a morte do produtor Avicii.

Trabalho que mais se aproxima dos primeiros registros de Lekman e Norlin, vide a forte similaridade com algumas das canções presentes em When I Said I Wanted to Be Your Dog (2004) e Introducing…Hello Saferide (2005), Correspondence ganha forma e cresce aos poucos, convidando o ouvinte a se perder dentro do estranho conceito proposto pela dupla sueca. Trata-se de uma obra essencialmente simples, porém, tocante na forma como um universo de pequenos detalhes são delicadamente revelados ao público.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.