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Crítica

Cowboy Sadness

: "Selected Jambient Works Vol. 1"

Ano: 2024

Selo: People Teeth

Gênero: Música Ambiente, Pós-Rock

Para quem gosta de: Fennesz e Tim Hecker

Ouça: First Rodeo e Starcharger

7.6
7.6

Cowboy Sadness: “Selected Jambient Works Vol. 1”

Ano: 2024

Selo: People Teeth

Gênero: Música Ambiente, Pós-Rock

Para quem gosta de: Fennesz e Tim Hecker

Ouça: First Rodeo e Starcharger

/ Por: Cleber Facchi 29/02/2024

Em meados da década passada, Peter Silberman, cantor e compositor conhecido pelas criações no The Antlers, o pianista e compositor David Moore, nome aos comandos do Bing & Ruth, e Nicholas Principe, que costuma se apresentar como Port St. Willow, passaram a se encontrar com certa regularidade em um clube noturno localizado na região do Brooklyn, em Nova Iorque. Munidos apenas de um gravador portátil, os três instrumentistas passaram a registrar suas sessões. Aos poucos, o processo evoluiu, levando o grupo a mergulhar em diferentes locações a fim de alcançar um melhor resultado para as próprias composições.

Vem justamente desse minucioso processo de composição o estímulo para o primeiro álbum de estúdio do paralelo Cowboy Sadness, Selected Jambient Works Vol. 1 (2024, People Teeth). Marcado pela sutileza dos elementos, o repertório de dez canções ganha forma aos poucos, detalhando uma série de elementos que concentram o que há de mais delicado na obra de cada realizador. E isso fica bastante evidente quando a atmosférica Willow, uma típica criação de Principie, logo desemboca nos temas contemplativos de Billings, MT, música que parece saída dos lançamentos mais recentes do The Antlers, como Green to Gold (2021).

Minutos à frente, em Full Mammoth, é a vez de Moore assumir o papel de protagonista, como um aceno para o drone acinzentado de obras como Species (2020). Nada que First Rodeo, vinda logo em seguida, não dê conta de reformular, destacando inclusive o uso de elementos percussivos. São pouco mais de quatro minutos em que o trio parece perfeitamente alinhado, criando inserções sutis que simplesmente parecem ocupar as pequenas brechas deixadas pelos companheiros de banda. Um delicado exercício criativo que ainda se completa pelo segundo movimentos da mesma canção, a delicada Second Rodeo.

Passada essa concentração de faixas que inaugura o trabalho, Selected Jambient Works Vol. 1 – sim, o nome é uma referência direta à cultuada série Selected Ambient Works, de Aphex Twin –, as canções se tornam cada vez mais extensas, lentas e por vezes arrastadas, prejudicando o andamento da obra. Exemplo disso fica bastante explícito com a chegada de Agave, composição que soa muito mais como um respiro do que necessariamente uma peça relevante para o desenvolvimento do material. É como um aquecimento para o que se revela de forma ainda mais complexa com a entrega da posterior e evidentemente robusta Range.

Pena que a composição seguinte, Ten Paces, mais uma vez utiliza do mesmo direcionamento moroso. São pinceladas instrumentais que pouco contribuem para o desenvolvimento da obra, como um esboço dos momentos de maior grandeza e evidente comprometimento do trio na formação do registro. Nona faixa do disco, Starcharger, vinda logo em sequência, é um bom exemplo disso. Pouco menos de nove minutos em que o grupo parte de uma abordagem puramente atmosférica, porém, conduz o ouvinte para um mundo mágico, efeito direto da transcendental sobreposição dos elementos que ampliam os limites do material.

Esse mesmo refinamento acaba se refletindo na derradeira The Cowboy Way. Escolhida como música de encerramento do registro, a canção traz de volta uma série de elementos testados pelo trio ao longo do disco. Das guitarras atmosféricas de Silberman, passando pelas ambientações de Moore ao uso sempre calculado da percussão de Principe, cada mínimo componente surge em uma medida própria de tempo. É como um acumulo de tudo aquilo que a banda tem explorado desde a inaugural Willow, porém, deixando o caminho aberto para os futuros trabalhos, vide a marcação numérica apontada logo no título da obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.