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Crítica

Criolo

: "Sobre Viver"

Ano: 2022

Selo: Oloko Records

Gênero: Hip-Hop, Rap, MPB

Para quem gosta de: Emicida e Black Alien

Ouça: Sétimo Templário e Pequenina

8.5
8.5

Criolo: “Sobre Viver”

Ano: 2022

Selo: Oloko Records

Gênero: Hip-Hop, Rap, MPB

Para quem gosta de: Emicida e Black Alien

Ouça: Sétimo Templário e Pequenina

/ Por: Cleber Facchi 18/05/2022

Amor e ódio sempre foram encarados como componentes essenciais dentro da obra de Criolo, porém, nunca de maneira tão explícita quanto nas composições de Sobre Viver (2022, Oloko Records). Primeiro trabalho de estúdio do artista paulistano desde o flerte com o samba, em Espiral de Ilusão (2017), o novo álbum estabelece na contrastante combinação entre esses dois elementos um estímulo natural para a construção dos versos. Canções que partem das angústias e experiências pessoais vividas pelo rapper, como a recente morte da própria irmã, vítima de Covid-19, para mergulhar em um ambiente consumido pela desigualdade, repressão e momentos de maior desespero que caracterizam o atual cenário brasileiro.

Com base nessa estrutura, Criolo vai da calmaria ao caos em um ziguezaguear de sensações que traz de volta o mesmo dinamismo expresso nas canções de Nó Na Orelha (2011) e Convoque Seu Buda (2014). Composições que mudam de direção a todo instante, sempre imprevisíveis, produto da boa relação em estúdio com André Laudz e Zé Gonzales, do Tropkillaz, responsáveis pela produção do material. A própria música de abertura do álbum, Diário do Kaos, com suas oscilações e interpretação potente do artista, funciona como uma boa representação de tudo aquilo que o rapper busca desenvolver ao longo da obra.

São composições trabalhadas de maneira intensa, potencializando a construção dos versos. Dessa forma, quando o ódio toma conta do registro, como Sétimo Templário, Criolo se projeta de maneira furiosa, rompendo com todo e qualquer traço de serenidade. “Quando o racismo vira voto, a morte dropa na infância / A inveja é uma adaga de sal na esperança / Essa é a marcha dos desesperados na rua da ignorância“, rima. Esse mesmo resultado acaba se refletindo nos momentos em que o amor impera, como em Ogum Ogum, colaboração com Mayra Andrade que funciona como um necessário respiro criativo.

Entretanto, é na combinação entre esses dois sentimentos que Criolo garante ao público algumas das principais composições do disco. É o caso de Pequenina, delicada colaboração com Liniker, MC Hariel, Jaques Morelenbaum e a própria mãe, Maria Vilani, em que discute maternidade, acolhimento e conquistas pessoais de forma dolorosa e sensível. O próprio encontro com Milton Nascimento, em Me Corte na Boca do Céu a Morte Não Pede Perdão, mesmo partindo de uma abordagem profundamente melancólica, transita por diferentes temáticas, propostas e sensações de maneira tocante, estreitando a relação com o ouvinte.

Dentro desse espaço marcado pelo permanente cruzamento de informações, Criolo traz de volta uma série de elementos originalmente testados nos discos anteriores, porém, partindo de uma linguagem atualizada. Do diálogo com o reggae, em Moleques São Meninos, Crianças São Também, passando pelo refinamento dado aos arranjos de Yemanjá Chegou e a já citada Ogum Ogum, sobram momentos em que o artista preserva e perverte a própria essência, abrindo passagem para uma série de novas possibilidades. E isso fica bastante evidente na afro-brasilidade que toma conta de Quem Planta Amor Aqui Vai Morrer, música que destaca a interpretação raivosa do artista, e a derradeira Aprendendo a Sobreviver, composição que pontua o trabalho de forma esperançosa e ainda evoca as criações de Gilberto Gil na década de 1980.

Dividido entre a luta e o luto, Sobre Viver mostra Criolo em sua melhor forma. Do momento em que tem início, em Diário do Kaos, cada composição do disco parece servir de passagem para a música seguinte, orientando de maneira intensa a experiência do ouvinte. São canções que alternam entre a fúria e o doce acolhimento, como uma extensão natural de tudo aquilo que o rapper paulistano tem produzido desde o lançamento de Espiral de Ilusão, vide músicas isoladas como Cleane, Sistema Obtuso e Etérea. Um turbulento exercício criativo que aponta para diferentes direções, porém, de maneira sempre consistente.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.