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Crítica

Crizin da Z.O.

: "Acelero"

Ano: 2024

Selo: QTV

Gênero: Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Tantão e os Fita e Saskia

Ouça: Calmo Apesar de Tudo e Território

7.8
7.8

Crizin da Z.O.: “Acelero”

Ano: 2024

Selo: QTV

Gênero: Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Tantão e os Fita e Saskia

Ouça: Calmo Apesar de Tudo e Território

/ Por: Cleber Facchi 26/01/2024

O ritmo frenético imposto logo no título de Acelero (2024, QTV), mais recente trabalho de estúdio de Crizin da Z.O., ajuda a entender parte do direcionamento adotado pelos cariocas Cris Onofre e Danilo Machado em parceria com o paranaense Marcelo Fiedler. É como um insano fluxo de pensamento que atravessa as ruas do Rio de Janeiro enquanto transita por diferentes estilos, ritmos e possibilidades em uma abordagem essencialmente torta. Composições que vão do funk carioca ao punk de forma imprevisível, estímulo para a construção de um repertório consumido pelo caos urbano e afundado em turbulentas crises existenciais.

Conceitualmente próximo do ainda recente Mimosa (2023), também lançado pela mesma gravadora, o que diminui a sensação de impacto em relação ao presente disco, Acelero, diferente do trabalho produzido por cabezadenego, Leyblack e Mbé, é uma criação muito mais verbal do que necessariamente rítmica. Assim como os antigos registros entregues por Crizin da Z.O., como Tudo Está Acontecendo Ao Mesmo Tempo Agora (2019), Brasil Buraco Vinte Vinte (2020) e Alma Braba (2022), o novo álbum soa como um passeio pela mente inquieta de Onofre. São tormentos pessoais, cenas e acontecimentos transmutados em música.

Tenho pensado muito sobre território / E como eu me comporto em cada território / Às vezes eu não to bolado, eu to só pensando / Mas depende muito do território“, reflete em Território, música que sintetiza parte dos conflitos e pequenos atravessamentos de informações que orientam o trabalho do trio ao longo do material. A própria faixa de abertura, O Fim Um, completa pela bateria carregada do experiente Iggor Cavalera, funciona como uma boa representação dos temas que movimentam o disco. “É o mundo se acabando / Junto com o fim da linguagem / Sigo me deslocando / Só com o valor da passagem“, dispara.

Embora sirva de passagem para um ambiente bastante particular, conceito que tem sido incorporado por Onfre desde a estreia com Tudo Está Acontecendo Ao Mesmo Tempo Agora, Acelero está longe de parecer uma obra hermética. Não por acaso, esse talvez seja o trabalho em que o artista carioca melhor desenvolve sua relação com outros parceiros criativos. Em Calmo Apesar de Tudo, por exemplo, são as rimas de Saskia que invadem a canção, ampliando consideravelmente os limites do material. Minutos à frente, em Domingo, é a vez de Jhon Douglas, responsável por parte das vozes e versos frenéticos que atravessam a composição.

Entretanto, para além desse permanente diálogo com outros colaboradores, sobrevive na forte relação de Onofre com Machado e Fiedler a real força do trabalho. Responsáveis pela construção das batidas, bases e arranjos que servem de sustento ao registro, os dois artistas contribuem para que a mesma sensação de urgência explícita nas formação dos versos seja incorporada de forma rítmica e instrumental. É como se cada composição servisse de passagem para a música seguinte, proposta que vez ou outra tendo ao uso de pequenas repetições estilísticas e estruturais, mas que em nenhum momento deixa de hipnotizar o ouvinte.

Próximo e ao mesmo tempo distante de toda a sequência de lançamentos previamente apresentados por Onofre e seus parceiros de criação, Acelero nasce como uma representação poética e sonora do tempo em que vivemos. São canções que parecem geradas entre uma estação e outra do metrô, nos encontros e despedidas gerados em carros de aplicativo ou mesmo no fluxo torrencial das mensagens de texto que escorrem pelas telas dos celulares. Composições capazes de tirar o fôlego do ouvinte, por vezes difíceis de acompanhar, mas que em nenhum momento perdem o controle e sabem exatamente onde querem chegar.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.