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Crítica

Lizzo

: "Cuz I Love You"

Ano: 2019

Selo: Nice Life / Atlantic

Gênero: Pop, R&B e Hip-Hop

Para quem gosta de: CupcakKe e Tierra Whack

Ouça: Cuz I Love You e Juice

7.3
7.3

“Cuz I Love You”, Lizzo

Ano: 2019

Selo: Nice Life / Atlantic

Gênero: Pop, R&B e Hip-Hop

Para quem gosta de: CupcakKe e Tierra Whack

Ouça: Cuz I Love You e Juice

/ Por: Cleber Facchi 24/04/2019

Em um lento, porém, criativo processo de transformação, Melissa Viviane Jefferson, ou simplesmente Lizzo, passou os últimos dez anos trabalhando na construção da própria identidade artística. Da estreia com Lizzobangers (2013), passando pelo evidente desejo em explorar novas sonoridades, estímulo para o acessível Big Grrrl Small World (2015), cada novo registro autoral entregue pela cantora/rapper norte-americana parecia transportar o ouvinte para um novo universo conceitual. Um permanente exercício de refinamento estético que alcança novo resultado nas canções de Cuz I Love You (2019, Nice Life / Atlantic).

Primeiro registro da cantora concebido em parceria com um selo de grande porte, Cuz I Love You diz a que veio logo nos primeiros minutos, efeito direto da voz forte e sentimentos detalhados na faixa-título do trabalho. “Eu pensei que não me importava / Eu pensei que estava com problemas amorosos / Mas baby, oh baby / Eu não sei o que vou fazer / Eu estou chorando porque te amo“, canta de forma exageradamente dramática, replicando a essência de clássicos da música negra produzidos nos anos 1950 e 1960.

É partindo justamente desse profundo comprometimento sentimental, lírico e estético que a cantora e seus parceiros de estúdio orientam a produção do trabalho. Sem necessariamente fixar residência em um gênero ou conceito específico, Lizzo vai da música pop produzida na década de 1970, em Juice, ao R&B romântico que marcou os anos 1990, conceito reforçado com naturalidade na provocativa Langerie. Um precioso cruzamento de ideias que se reflete na completa entrega da artista durante toda a execução da obra.

O resultado dessa criativa colagem de referências está na produção de uma obra que preserva a essência dos antigos trabalhos da cantora, porém, dialoga com uma nova parcela do público. Do misto de canto e rima que invade a pegajosa Like a Girl, típica canção de Big Grrrl Small World, passando pelo pop melódico de Soulmate ao romantismo nostálgico de Jerome, evidente é o esforço de Lizzo em fazer de cada composição um precioso objeto de destaque, estreitando a relação com nomes como X Ambassadors, Ricky Reed, Nate Mercureau, Oak e Mike Sabath.

Claro que essa propositada busca por novas possibilidades não distancia Lizzo de possíveis tropeços. É o caso de Crybaby, música que mais parece uma tentativa da artista em emular o rock dos anos 1980, como uma fuga da mesma identidade criativa explicita em Jerome e na própria faixa-título do álbum. Em Exactly How I Feel, colaboração com Gucci Mane, a mesma atmosfera nostálgica de Juice, porém, distante do mesmo acabamento minucioso. De fato, não há como ignorar a evidente queda de qualidade na segunda metade do trabalho, como se o registro perdesse fôlego aos poucos.

Completo pela presença de Missy Elliott, na bem-sucedida Tempo, Cuz I Love You acaba se revelando muito mais como um registro de canções do que uma obra completa. É como se a cantora agrupasse, mesmo que de maneira aleatória e irregular, todo o repertório acumulado desde o último ano, durante o lançamento do single Boys. Como resultado, Lizzo entrega ao público uma obra que invariavelmente agrada e captura a atenção do ouvinte, mas que pouco evolui criativamente, pervertendo a lógica de maturidade normalmente exigida de um registro nesse momento da carreira.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.