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Crítica

Damon Albarn

: "The Nearer the Fountain, More Pure the Stream Flows"

Ano: 2021

Selo: Transgressive Records

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Jarvisw Cocker e Ruff Rhys

Ouça: Royal Morning Blue e Particles

7.5
7.5

Damon Albarn: “The Nearer the Fountain, More Pure the Stream Flows”

Ano: 2021

Selo: Transgressive Records

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Jarvisw Cocker e Ruff Rhys

Ouça: Royal Morning Blue e Particles

/ Por: Cleber Facchi 04/01/2022

Em 2014, quando deu vida ao primeiro álbum em carreira solo, Damon Albarn decidiu se aprofundar nas rotinas e na robotização dos indivíduos em um exercício criativo tão melancólico quanto político. O resultado desse minucioso processo de criação está nas canções de Everyday Robots, trabalho em que se distancia do som incorporado em seus principais projetos, Blur e Gorillaz, para investir em um repertório marcado pelo reducionismo dos elementos e poesia atenta, estrutura que volta a se repetir nas músicas do também delicado The Nearer the Fountain, More Pure the Stream Flows (2021, Transgressive Records).

Feito para ser absorvido aos poucos, conceito reforçado na autointitulado música de abertura, o novo álbum de Albarn estabelece nas paisagens da Islândia, onde parte expressiva do disco foi gravado, um precioso componente de inspiração. São canções que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, como corredeiras frias do degelo em uma manhã de primavera. E isso se reflete durante toda a execução do material. Do uso calculado das batidas ao tratamento dado aos pianos entristecidos e vozes, cada elemento do trabalho parece pensado para envolver e transportar o ouvinte para dentro da obra.

Combinada com essa fina tapeçaria instrumental, vem a poesia sensível que serve de sustentação ao disco. São reflexões sobre o fenômeno do aquecimento global, conflitos políticos e, principalmente, a sensação de abandono causada por conta da pandemia de Covid-19. Instantes em que Albarn busca se reencontrar e estreitar a relação com o ouvinte por meio das próprias experiências. Exemplo disso fica bastante evidente na derradeira Particles, música que busca inspiração em uma conversa que o compositor teve com um passageiro durante um vôo para Reykjavik, capital da Islândia. “Eu chorei por você querida / Você está voltando para mim?“, questiona em meio a arranjos melancólicos, como um complemento aos versos.

Embora marcado pela leveza dos elementos, The Nearer the Fountain, More Pure the Stream Flows está longe de parecer uma obra exageradamente imersiva ou de difícil absorção. Da mesma forma que em Everyday Robots, Albarn se concentra na produção de pequenos respiros criativos que tornam a experiência do ouvinte sempre aprazível. É o caso de Royal Morning Blue. Enquanto os versos refletem sobre o período em que esteve na Islândia, camadas de sintetizadores e batidas destacadas rompem com a lógica atmosférica do disco, lembrando parte das canções de Plastic Beach (2010), grande obra do Gorillaz.

Outro aspecto interessante em relação ao trabalho diz respeito aos momentos de maior experimentação incorporados por Albarn. São músicas como Combustion, quarta faixa do disco, em que o artista parte de uma base reducionista, íntima do restante da obra, porém, pontuada pela sobreposição dos elementos, ruídos ocasionais e instrumentos de sopro. O mesmo resultado acontece minutos à frente, em Esja, composição que potencializa esse resultado. Canções que vão do jazz ao pop sem necessariamente fazer disso o estímulo para um registro confuso, minúcia que se reflete durante toda a execução do álbum.

Tamanha riqueza de ideias e variada combinação de elementos faz de The Nearer the Fountain, More Pure the Stream Flows uma obra ampla e equilibrada na mesma proporção. Ainda que alguns excessos e composições menos significativas sejam percebidas em pontos específicos do registro, como em The Cormorant e Giraffe Trumpet Sea, prevalece o domínio criativo e esmero de Albarn durante toda a execução do material. Canções que partem sempre de uma base reducionista, mas que acabam revelando um catálogo de novas possibilidades, histórias e sentimentos dotados de uma linguagem universal.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.