Image
Crítica

Daniel Rossen

: "You Belong There"

Ano: 2022

Selo: Warp

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Grizzly Bear e Fleet Foxes

Ouça: It’s a Passage e Shadow in the Frame

8.0
8.0

Daniel Rossen: “You Belong There”

Ano: 2022

Selo: Warp

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Grizzly Bear e Fleet Foxes

Ouça: It’s a Passage e Shadow in the Frame

/ Por: Cleber Facchi 15/04/2022

É difícil estabelecer onde começam as criações de Daniel Rossen em carreira solo e o trabalho espalhado em diferentes obras colaborativas. Do uso potente das vozes ao refinamento dado aos arranjos, tudo parece pensado dentro de um mesmo território criativo. Canções que acenam para a música de câmara produzida nos anos 1960 e 1970, porém, dentro de uma atmosfera particular, própria das composições de cantor, compositor e produtor californiano que, entre outras coisas, esteve envolvido em projetos como Grizzly Bear e Department of Eagles. Um precioso exercício criativo, sempre em expansão, feito reforçado com o lançamento de You Belong There (2022, Warp) registro assumido integralmente pelo multi-instrumentista.

Produto final de um lento processo de desenvolvimento criativo que teve início há exatamente dez anos, quando deu vida ao primeiro EP em carreira solo, Silent Hour/Golden Mile (2012), You Belong There concentra todos os elementos que fizeram de Rossen um dos nomes mais interessantes da cena norte-americana. Estão lá as harmonias de vozes, uso calculado das batidas e arranjos sublimes que surgem e desaparecem durante toda a execução do material. Canções que parecem trabalhadas em uma medida própria de tempo, como se o músico orquestrasse a experiência do ouvinte do início ao fim do registro.

A própria escolha do artista em fazer de Shadow in the Frame a primeira faixa do disco a ser revelada ao público reforça essa sensação. Em um intervalo de mais de cinco minutos, Rossen utiliza da inserção e remoção dos componentes para capturar a atenção do ouvinte. São momentos de breve silenciamento que antecipam estruturas grandiosas, por vezes colossais. Instantes em que o multi-instrumentista regressa ao mesmo território criativo de obras como Veckatimest (2009) e Shields (2012), fazendo dessa costura misteriosa dos elementos a passagem para um labirinto de formas instrumentais, quebras e sensações.

Dessa forma, cada composição exige ser observada individualmente. Perceba como Rossen utiliza da sobreposição de sedimentos acústicos para engrandecer e ampliar os limites da obra. Exemplo disso fica bastante evidente em Unpeopled Space, música que começa pequena, partindo de um dedilhado econômico, mas que ganha diferentes tonalidades a cada movimento do instrumentista. Esse mesmo refinamento estético e lento avanço fica ainda mais evidente na canção seguinte, Celia, faixa que encolhe e cresce a todo instante, sempre de maneira imprevisível, transportando o ouvinte para inúmeros cenários.

O mais interessante talvez seja perceber que mesmo marcado pela flexibilidade dos elementos, You Belong There em nenhum momento ultrapassa o que parece ser um limite bem definido por Rossen. Como indicado logo nos minutos iniciais do registro, tudo se organiza dentro de um ambiente à meia-luz que favorece o uso das vozes e arranjos cuidadosamente trabalhados pelo artista. São pianos soturnos, cordas e entalhes percussivos que utilizam de uma abordagem bastante similar, proposta que tende ao desgaste, principalmente na segunda metade do disco, porém, contribui para a forte homogeneidade do material.

Sobrevive nesse forte comprometimento estético a montagem de um repertório que deve agradar quem há tempos acompanha os trabalhos de Rossen, principalmente como membro do Grizzly Bear, mas que em nenhum momento oferece novas saídas criativas. Salve exceções, como I’ll Wait For Your Visit, com seus teclados renascentistas e percussão abrasiva, tudo gira em torno de um mesmo conjunto de ideias, estrutura que está longe de decepcionar o ouvinte, porém, ecoa de forma menor, por vezes previsível, quando observamos tudo aquilo que o instrumentista tem produzido desde os primeiros registros autorais.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.