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Crítica

Danny Brown

: "Quaranta"

Ano: 2023

Selo: Warp

Gênero: Rap

Para quem gosta de: JPEGMAFIA e Billy Woods

Ouça: Tanto, Y.B.P. e Jenn’s Terrific Vacation

8.0
8.0

Danny Brown: “Quaranta”

Ano: 2023

Selo: Warp

Gênero: Rap

Para quem gosta de: JPEGMAFIA e Billy Woods

Ouça: Tanto, Y.B.P. e Jenn’s Terrific Vacation

/ Por: Cleber Facchi 05/12/2023

Quaranta (2023, Warp) é uma obra de extremos. Enquanto parte das composições destacam a poética insana de Danny Brown, outras evidenciam o lado contemplativo do artista. E não poderia ser diferente. Primeiro trabalho do rapper em carreira solo após um intervalo de quatro anos, o sucessor de U Know What I’m Sayin? (2019) nasce como uma representação das experiências vividas pelo norte-americano desde a passagem por uma clínica de reabilitação, além, claro, do amadurecimento pessoal. O próprio título do material, em italiano, “quarenta”, funciona como um precioso indicativo desse direcionamento.

Descrito por Brown como uma sequência ao bem-recebido XXX (2011), disco que apresentou o rapper à uma parcela ainda maior de ouvintes, Quaranta parte das vivências do próprio artista, mas em nenhum momento deixa de observar o universo ao redor, principalmente a relação com Detroit, cidade em que nasceu e cresceu. “Éramos jovens, negros e pobres sendo criados em Detroit / Você nunca vai aprender o que um negro aprendeu“, dispara em Y.B.P., música que se completa pela participação do conterrâneo Bruiser Wolf e uma síntese clara daquilo que o norte-americano busca desenvolver ao longo do registro.

São canções marcadas pela poética reflexiva, porém, sempre provocativas e liricamente impactantes, como o princípio de uma nova fase na carreira do artista. Exemplo disso fica bastante evidente na sombria Down With It. “Deixei um negro quebrado, não consigo manter o foco / É difícil para mim pensar / Tentando matar minha dor, então eu bebo / Quem diria que terminaria assim?“, rima. É como se Brown a todo momento apontasse para o próprio passado, revisitando velhos hábitos, porém, movido pela necessidade de seguir em frente, a expectativa de uma vida transformada após os 40 anos e o recente período de sobriedade.

Toda essa combinação de elementos resulta na apresentação do que talvez seja o trabalho mais pessoal do artista, mas que a todo momento estreita laços com diferentes colaboradores. É o caso de Celibate, música que parte de uma abordagem bastante particular, com Brown mais uma vez refletindo sobre o próprio passado, porém, abrindo passagem para a chegada do rapper MIKE, com quem divide os minutos finais da canção. Surgem ainda faixas como Jenn’s Terrific Vacation, composição em que troca as rimas pela bateria totalmente imprevisível do produtor Kassa Overall, proposta que conduz o registro para outras direções.

Essa mesma riqueza de ideias no processo de composição acaba se refletindo durante toda a execução da obra. Observado atentamente, Quaranta talvez seja o trabalho mais diverso de Brown. Enquanto faixas como Tantor, produzida por The Alchemist, trazem de volta a mesma potência explícita em registros como Old (2013) e Atrocity Exhibition (2016), outras, como Down With It, assinada pelo velho colaborador Paul White, concedem ao disco um caráter atmosférico. A própria Bass Jam, no encerramento do álbum, soa como uma canção inimaginável quando voltamos os ouvidos para os antigos lançamentos do artista.

Partindo dessa combinação de elementos, Brown garante ao público uma obra estruturalmente instável e pontuada por ideias dissonantes, porém, liricamente consistente. Como indicado na própria imagem de capa do trabalho, Quaranta serve de passagem para um ambiente sombrio, intimista e particular, com o rapper sempre em primeiro plano. Trata-se de uma obra menos imediata em relação aos registros que o antecedem, mas tão fascinante quanto. É como se o artista, pela primeira vez despido de suas máscaras e totalmente sóbrio, se revelasse por completo em cada mínimo fragmento poético que abastece o disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.