Ano: 2024
Selo: Merge
Gênero: Art Pop
Para quem gosta de: Moses Sumney e L'Rain
Ouça: Traditions e Breath Out
Ano: 2024
Selo: Merge
Gênero: Art Pop
Para quem gosta de: Moses Sumney e L'Rain
Ouça: Traditions e Breath Out
Há dois anos, enquanto parecia cada vez mais voltada às pistas de dança, Dawn Richard surpreendeu ao unir forças com o multi-instrumentista, compositor e arranjador Spencer Zahn para dar vida ao sofisticado Pigments (2022). Diferente de tudo aquilo que a cantora havia revelado anteriormente, o registro encontrou no uso das cores a passagem para um delicado universo criativo, destacando a versatilidade e riqueza de ideias da norte-americana que começou a carreira como integrante do grupo de música pop Danity Kane.
Satisfatório perceber em Quiet In a World Full of Noise (2024, Merge), segundo e mais recente trabalho de estúdio dessa parceria, um repertório ainda mais instigante e musicalmente complexo em relação ao disco que o antecede. Enquanto os versos destacam o lirismo agridoce e forte aspecto confessional das criações de Richard, arranjos cuidadosamente elaborados por Zahn conduzem o ouvinte para um mundo mágico.
Terceira faixa do registro, Traditions funciona como uma boa representação desse resultado. São delicadas pinceladas instrumentais que não apenas acompanham, como engrandecem os versos que tratam sobre as heranças sentimentais e culturais da cantora que cresceu na região de Nova Orleães. “Você chama isso de superstição / Eu chamo isso de tradição / Você chama isso de sorte / Eu chamo isso de bênção”, celebra a artista em um olhar sorridente para o próprio passado, destacando a força criativa que move o trabalho.
São justamente esses momentos de maior vulnerabilidade emocional que tornam o processo de audição de Quiet In a World Full of Noise tão fascinante. É como se Richard, pela primeira vez em quase duas décadas de carreira, se revelasse por completo para o ouvinte, evidenciando suas fraquezas, medos e virtudes com uma sensibilidade única. “Você pode respirar”, canta na libertadora Breath Out, síntese poética do trabalho.
Naturalmente, essa intensa carga emocional faz de Quiet In a World Full of Noise um exercício criativo que exige tempo até que seja absorvido por completo pelo ouvinte. O próprio Zahn parece entender isso muito bem, tanto que o compositor se distancia de qualquer traço de urgência para mergulhar em um repertório essencialmente contemplativo. São canções que partem de um lugar sereno para alcançar o cosmos, como em Moments for Stillness, meticuloso ato instrumental que sutilmente divide o trabalho em duas metades.
Embora fundamentais para o desenvolvimento do trabalho, são esses momentos de calmaria excessiva e longos atos instrumentais que acabam diminuindo a sensação de impacto em torno do material. É como se, para alcançarmos os sentimentos mais profundos detalhados nos versos da cantora, Zahn produzisse uma tapeçaria sonora quase intransponível, dificultando o acesso do ouvinte. Entretanto, basta uma brecha para que sejamos mais uma vez inundados pela força das emoções que evidenciam a total entrega de Richard.
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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.