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Crítica

Depeche Mode

: "Memento Mori"

Ano: 2023

Selo: Columbia / Mute

Gênero: Rock, Synthpop, Industrial

Para quem gosta de: Nine Inch Nails e New Order

Ouça: My Cosmos Is Mine e Ghosts Again

7.6
7.6

Depeche Mode: “Memento Mori”

Ano: 2023

Selo: Columbia / Mute

Gênero: Rock, Synthpop, Industrial

Para quem gosta de: Nine Inch Nails e New Order

Ouça: My Cosmos Is Mine e Ghosts Again

/ Por: Cleber Facchi 03/04/2023

A morte paira sobre o novo álbum do Depeche Mode. Com o representativo título de Memento Mori, do latim “lembre-se de que você vai morrer“, o registro produzido entre os meses de junho e outubro do último ano, pouco tempo após o falecimento do tecladista Andy Fletcher (1961 – 2022), cresce como um produto natural das inquietações e tormentos que invadem a mente dos membros remanescentes da banda, o vocalista Dave Gahan e o multi-instrumentista Martin Gore. Um território conceitual em que o luto, a dor e a necessidade de seguir em frente se confundem a todo momento, orientando a experiência do ouvinte.

Sentimentos desperdiçados / Significados quebrados / O tempo é passageiro / Veja o que isso traz“, canta Gahan em Ghosts Again. Composição escolhida para anunciar a chegada do disco, a faixa de quase quatro minutos funciona como uma representação de tudo aquilo que a dupla inglesa busca desenvolver ao longo da obra. São versos ambientados à beira do abismo, sempre intimistas e pautados pela inevitabilidade da morte. Frações poéticas que partem das experiências recentes vividas pelos companheiros de banda, mas que se conectam de forma tocante aos sentimentos lúgubres e memórias entristecidas de qualquer ouvinte.

É como um exercício criativo que transcende a relação com a morte explícita no título do trabalho para mergulhar em pequenas observações, muitas delas pessimistas, sobre a nossa sociedade e as relações humanas. “Continue me lembrando / Que as pessoas são boas / E quando eles fazem coisas ruins / Eles estão apenas sofrendo por dentro“, canta em People Are Good, música que sintetiza de forma bastante explícita esse direcionamento que acaba se refletindo até os minutos finais do álbum, em Speak To Me. “Vou te decepcionar / Eu vou te decepcionar / Eu preciso saber / Você está aqui comigo“, questiona Gahan.

Dentro desse cenário consumido pela melancolia dos versos e canções que detalham o que há de mais doloroso nas criações do Depeche Mode, Gahan e Gore contam com o suporte de James Ford (Arctic Monkeys, Foals) e Marta Salogni (Frank Ocean, Björk) durante toda a execução do material. O resultado desse processo está na entrega de uma obra banhada pelo uso de sintetizadores soturnos e ambientações industriais, como um regresso ao mesmo território criativo que marca um dos períodos mais férteis da banda, vide a sequência formada por Violator (1990), Songs of Faith and Devotion (1993) e Ultra (1997).

Exemplo disso fica bastante evidente na introdutória My Cosmos Is Mine. Enquanto a letra da canção se projeta como um aviso (“Não brinque com meu coração / Não derrube meus santuários / Não altere meus títulos / Meu cosmo é meu“), bases cíclicas e ruídos ocasionais se completam pelo uso calculado das batidas e sintetizadores sempre imersivos. E ela está longe de ser a única composição a utilizar do mesmo enquadramento. Das guitarras metálicas em My Favourite Stranger ao lento desvendar de informações em Don’t Say You Love Me, tudo parece trabalhado em uma medida particular de tempo, envolvendo o ouvinte.

Por conta justamente dessa abordagem, Memento Mori é um trabalho que segue em um ritmo próprio, por vezes arrastado. Do momento em que tem início, em My Cosmos Is Mine, tudo gira em torno de um mesmo conjunto de ideias e estruturas que contribuem para o caráter atmosférico do registro. Mesmo quando a dupla flerta com o pop, como em Wagging Tongue e Ghosts Again, Gahan e Gore nunca ultrapassam o que parece ser um limite bem definido. São ambientações contidas que talvez causem desconforto ao ouvinte mais apressado, mas que dialogam de forma sensível com os temas incorporados ao longo do álbum.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.