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Ano: 2024

Selo: Nyege Nyege Tapes

Gênero: Funk, Eletrônica

Para quem gosta de: DJ K e Dj RaMeMes

Ouça: Paty Trem Barbie e Joga Leite

8.2
8.2

DJ Anderson do Paraíso: “Queridão”

Ano: 2024

Selo: Nyege Nyege Tapes

Gênero: Funk, Eletrônica

Para quem gosta de: DJ K e Dj RaMeMes

Ouça: Paty Trem Barbie e Joga Leite

/ Por: Cleber Facchi 13/03/2024

Longe da urgência historicamente imposta pelo funk produzido no Rio de Janeiro e São Paulo, DJ Anderson do Paraíso segue uma abordagem particular. Original da região de Paraíso, Zona Leste de Belo Horizonte, em Minas Gerais, o produtor encontrou no uso de ambientações soturnas e batidas sempre esqueléticas a passagem para um território que parece pertencer somente a ele. São instantes de maior experimentação, mas que em nenhum momento rompem com a poética suja e elementos bastante característicos do estilo.

Primeiro trabalho de estúdio do artista mineiro, Queridão (2024, Nyege Nyege Tapes) funciona como uma boa representação desse resultado. Embora vendido como um registro de inéditas, efeito direto da série de canções produzidas especialmente para o material, trata-se de uma coletânea montada a partir de faixas originalmente apresentadas ao longo dos últimos anos. É o caso de Paty Trem Bala, velha conhecida do produtor, mas que ganha novo significado quando observada como parte do repertório do presente disco.

Em geral, são composições que se distanciam de possíveis excessos, como se Anderson seguisse o caminho oposto ao percorrido por DJ K, MU540 e outros nomes em ascensão dentro do cenário brasileiro. Tamanho refinamento no processo de criação leva o estilo para um novo território, destacando a limpidez dos vocais, sempre posicionados em primeiro plano, e o uso de elementos pouco usuais na construção das bases, vide a inserção quase cinematográfica dos metais e meticulosa sobreposição aplicada aos arranjos de cordas.

Exemplo disso fica bastante evidente em Joga Leite, composição que contrasta a poesia explícita de MC Laranjinha e MC Laureta com uma atmosfera típica de um filme de terror da década de 1980. E ela não é a única. Em Aula de Putaria, por exemplo, o violoncelo solitário avança em uma abordagem quase opressiva, ocupando as possíveis brechas deixadas entre uma batida e outra. A própria música de abertura do disco, Sadomasoquista, funciona como uma minuciosa representação do tipo de som explorado pelo produtor.

Claro que essa abordagem reducionista tem lá seus riscos, com o produtor esbarrando em composições que partilham de uma estrutura bastante similar, por vezes formulaica, limitando o trabalho a um mesmo conjunto de ideias. Não por acaso, o artista estrategicamente posiciona canções que levam o material para outras direções, rompendo, mesmo que de maneira sutil, com a atmosfera excessivamente contida da obra. É o caso de União dos RLK, música que não apenas se distancia do uso econômico das vozes, como chama a atenção ao perverter elementos bastante característicos do gênero, como a clássica virada de bateria.

Dessa forma, DJ Anderson do Paraíso apresenta um repertório marcado pela singularidade dos elementos, indicando o característico traço autoral durante toda a execução da obra, mas que em nenhum momento oculta as próprias inspirações. É como um olhar atento para tudo aquilo que define a produção brasileira nas últimas três décadas, porém, partindo de uma interpretação totalmente particular que vai do encaixe das batidas à cada mínimo fragmento de voz, ruído ou textura que assume sua função de forma bastante específica.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.